Quem não as tem?
Quem nunca as teve?
Quem jamais as terá?
Sim,
de todos os tipos e de todas as formas. Indo de realidades subjetivas
às mais grotescas vontades de realizações objetivas e concretas.
O Evangelho praticamente inicia com o tema da tentação!
Por
isto não é de admirar que Jesus tenha nos mandado vigiar e orar para
não se “cair em tentação”. E com este “cair em...”, Ele revela que a
tentação tem suas estações; ou seja: seasons. Ora, esta “estação das
tentações” têm a ver com as dinâmicas psiquicas de nosso ser, conforme
também aconteceu com Jesus.
Na
fome, na necessidade de afirmação e no desejo de cumprir Sua missão, a
tentação veio como indução para transformar pedras em pães (fome), como
impulso para resolver quem Ele era aos olhos de todos de uma vez
(Pináculo) e como um “bypass” no tempo, queimando etapas, sobretudo a
etapa da Cruz (o Monte Alto).
Portanto,
quando Ele mandou orar para evitar a tentação, com isto não ensinava
nem a devoção neurótica (orar contra a tentação), nem a atitude
paranóica (poderei ser atingido pela tentação a qualquer momento). Sim,
porque o que Ele ordena é que se encha a mente de oração, de um falar
constante com Deus, e que nada mais é senão um falar consigo mesmo em
Deus; de tal modo que o pensar não é de si para si, mas acontece em
Deus, vivendo assim em permanente estado de conferência com Ele; em
tudo. Além disso, no Pai Nosso, Ele vincula o “não nos deixes cair em
tentação, mas livra-nos do mau” — ao contexto antecedente, que fala de
estar cheio e tomado pelo Pai, pelo desejo de que Seu nome seja em nós
santificado, que sei reino cresça em nós (venha!), que a vontade Dele
tenha seu lugar e chão em nós; além de nos remetar para a busca do que é
do céu aqui na Terra.
Assim,
uma das maiores prevenções contra a tentação tem a ver com uma devoção
profunda e não neurótica; posto que se propõe a buscar o que é maior e
mais elevado, ao invés de se deixar tomar pelo que aqui da Terra. Botar
as coisas da Terra sobre aquilo que é eterno, é o que abre o espaço
existencial maior para a tentação.
Portanto, “orai...”, diz Ele, para que não se caia em tentação!
É
esse orar aquilo que mais e melhor previne a estação das tentações.
Todavia, se alguém decide orar contra ou por causa da tentação, mais
tentado ainda ficará; posto que a tentação, pela via da oração e por ela
própria, se torna algo “fixo como pensamento”, e que apenas cresce mais
e mais em nós.
Este
tema da tentação é interminável, como infindáveis são as pulsões de
tentação humana. Entretanto, sendo simples e prático, eu digo que o que
de melhor se pode fazer por si mesmo na hora da tentação, não é pensar
que podemos vencê-la, mas sim que não temos o poder, em nossa carne,
para combatê-la...
E, assim, sabendo disso, virmos a descansarmos em relação à tentação, pois ela se alimenta de nossa luta contra ela.
Afinal,
o que não pode ser vencido pelas nossas próprias forças, havendo
confiança na Graça, já deveria estar vencido como ansiedade em nós;
pois, se não posso, por que se afligir com tal impossibilidade? Assim, é
esse cinismo santo para com o poder da tentação, e que resulta de nossa
confiança na Graça de Deus, aquilo que deve tirar o poder da ansiedade e
do medo pelo qual a tentação cria metástases em nossa mente, em todo o
nosso processo de pensar. Quanto mais se enfrenta a tentação como tal,
mais ela cresce em nós; e se orarmos contra ou em razão dela, mais ela
se "fixa" em nós; tornando-se uma devoção diabólica; fazendo-nos “orar”
contra aquilo que só se torna o que tememos quando é tratado como tal.
A
única maneira de enfrentá-la é deixando-a rouca... falando sozinha...
sem resposta nossa... enquanto nos desobrigamos de conversar com ela...
ou de respondê-la... ou de mostrar para Deus e para nós mesmo que temos
"o poder do livramento"... e que por isto a venceremos. Isto porque o
“poder do livramento” do qual nos fala Paulo, escrevendo aos Coríntios,
só se efetiva na vida daquele que descansa no livramento que já é; e que
não apenas será se o tornarmos real por nossas próprias forças!
Quando
se confia na Graça e no amor de Deus por nós, toda tentação perde seu
poder; e se descansarmos na certeza de que Jesus já foi também tentado
por nós, conhecendo cada uma de nossas fraquezas ou tendências, mais
vicária e transferível, pela fé, será a vitória de Jesus em nosso favor.
Se houver confiança e descanso, é claro!
Desse
modo, descansando é que se vence a tentação, confiando na fidelidade e
na imutabilidade do amor de Deus. Pois só assim recebemos o poder de
resistir, ou de suportar a tentação; posto que desse ponto em diante as
tentações deixam de ser “sobre-humanas”, e se tornam apenas humanas; e,
portanto, reduzidas ao nosso próprio nível, deixando de ser um poder
irresistível. Paulo e Hebreus ensinam que as tentações não suportam o
nosso silêncio confiante na Graça; assim como não suportam nosso
descanso na Cruz de Cristo. Afinal, o “Está Consumado” vale também para
as tentações.
As
tentações crescem na medida em que nossas pulsões psicológicas,
provocadas pelas nossas próprias cobiças (insegurança essencial) — e que
são os agentes progenitores do que chamamos tentação —, se aninham e se
fixam em nós como medo de Deus e de Sua punição.
Sim,
por essa via elas apenas aumentam, visto que tal realidade existencial e
psicológica aceita a provocação do "medo de estar sendo tentado"...
Do mesmo modo elas crescem em razão de nosso de-bate com elas.
Tentação
come medo; e se alimenta do seguinte cardápio: oração amedrontada,
de-bate psicológico, discussão com ela, medo de Deus; e também de seu
oposto, que é a arrogância que julga que por força própria se pode
vencê-la.
Quem já não tem justiça própria, não tem mais assunto com nenhuma tentação!
"Vamo-nos daqui... Aí vem o principe deste mundo, e ele nada tem em mim..." — disse Jesus.
O principe deste mundo se alimenta do que “ele tem em nós”!
Assim,
como há muita cobiça e outras loucuras em todos nós...! o melhor a
fazer é confiar Naquele em quem o tal “principe” nunca teve NADA: Jesus.
Parece coisa boba, mas não é!
Quem
desejar, pratique; e verá como as tentações não suportam a confiança e o
descando na Graça; e isso em silêncio que nem ora contra... mas apenas
ora em gratidão! O grande problema é aprender isto como confiança, e não
como “teoria”.
E mais: aprender a ser grato e natural com Deus mesmo em tais horas críticas.
Quando
a gente aprende isto, ela, a tentação, ao chegar... começa a perder o
poder; posto que se alimenta de nossas importâncias; e sobretudo de
nossa justiça-própria, de nossa necessidade de dar explicações a nós
mesmos e aos céus; e, sobretudo, do medo de estar sendo tentado!
Caiofabio
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