Nos últimos dois anos, desfez-se a ideia de que o mundo árabe estava seguro nas mãos de tiranos maleáveis -uma preguiçosa equação de autocracia com estabilidade que ignorava as muitas maneiras pelas quais o despotismo nos países árabes resultava em uma espécie de linha de montagem de islamitas.
Ainda assim, no início do terceiro ano dos confusos desdobramentos da Primavera Árabe, a região se aproxima de quatro situações de grande potencial sísmico.
A revolução na Síria e a iminente queda da dinastia dos Assad, o perigoso impasse em relação ao Irã, a sucessão na casa real da Arábia Saudita e a morte -prestes a acontecer- da solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino testarão os nervos e a habilidade dos formuladores de políticas.
Ainda que os EUA desejem se voltar para a Ásia, e a Europa se volte para dentro, o Oriente Médio não oferecerá nenhum descanso aos atores internacionais ou regionais.
A invasão anglo-americana do Iraque reacendeu o histórico confronto de sunitas e xiitas. Síria e Líbano são hoje os principais fronts da disputa. A minoria alauita de Bashar Assad é a representante do xiismo em torno do qual Irã e Hizbollah se reuniram.
Na prática, a decisão do Ocidente de permanecer longe das tentativas da maioria sunita síria de se libertar de Assad deixa o fornecimento de ajuda e armas aos rebeldes nas mãos das monarquias do golfo Pérsico, lideradas por Arábia Saudita e Qatar.
Na Líbia, os EUA escolheram "liderar dos bastidores". Na Síria, os americanos e seus aliados europeus decidiram "subcontratar" os supremacistas sunitas da região.
A consequência foi tornar o país um ímã para jihadistas (extremistas islâmicos) e fortalecer dentro da Síria a influência dos islamitas radicais.
A queda de Assad privará o Irã de seu maior aliado árabe. Isso pode encorajar Israel, sob o comando de um virtualmente reeleito Binyamin Netanyahu, a atacar as instalações nucleares iranianas.
Se Barack Obama quiser evitar ser arrastado a um conflito com o Irã, ele e seus aliados precisarão negociar metas realistas. Teerã tem de ser autorizada a enriquecer urânio em níveis baixos, sob estrita supervisão internacional e com o claro entendimento de que qualquer tentativa de desenvolver armas nucleares será cruzar a linha vermelha.
Se Israel continuar com a política de que a "linha vermelha" é não enriquecer urânio nenhum, a guerra parece inevitável. Isso permitirá a Teerã encurralar ainda mais seus cidadãos, consolidar bases no Iraque e no Líbano e se reafirmar no Oriente Médio.
Além disso, nada agradaria mais aos mulás do que reemergir como vanguarda da resistência contra grandes e pequenos Satãs e líderes dos xiitas contra os sunitas.
Na Arábia Saudita, a casa real vive crise sucessória. Dois príncipes morreram em pouco mais de um ano, e as cautelosas reformas do idoso e enfermo rei Abdullah evaporaram ante as revoltas na região e a assertividade do Irã.
A família real, ao mesmo tempo em que subsidia tudo -de moradia barata ao perdão de dívidas-, reprime a oposição e reforça o establishment religioso, sectário e contrário a reformas.
Por fim, Israel está perto de um ponto sem volta na relação com a Palestina. Os planos recentes de Netanyahu para expandir assentamentos em território ocupado matam por completo a ideia de um Estado palestino viável -os palestinos acabarão agrupados em bantustões.
É o tipo de situação que só pode levar à luta contra o "apartheid" e à provável reunificação dos palestinos, manchando o nome de Israel e colocando em questão o legítimo direito dos judeus a um Estado na Terra Santa.
Não há bússola infalível para esse campo minado. Mas hesitação sobre a Síria, ambiguidade estratégica em relação ao Irã e alinhamento automático a sauditas e israelenses não são o caminho.
Ainda assim, no início do terceiro ano dos confusos desdobramentos da Primavera Árabe, a região se aproxima de quatro situações de grande potencial sísmico.
A revolução na Síria e a iminente queda da dinastia dos Assad, o perigoso impasse em relação ao Irã, a sucessão na casa real da Arábia Saudita e a morte -prestes a acontecer- da solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino testarão os nervos e a habilidade dos formuladores de políticas.
Ainda que os EUA desejem se voltar para a Ásia, e a Europa se volte para dentro, o Oriente Médio não oferecerá nenhum descanso aos atores internacionais ou regionais.
A invasão anglo-americana do Iraque reacendeu o histórico confronto de sunitas e xiitas. Síria e Líbano são hoje os principais fronts da disputa. A minoria alauita de Bashar Assad é a representante do xiismo em torno do qual Irã e Hizbollah se reuniram.
Na prática, a decisão do Ocidente de permanecer longe das tentativas da maioria sunita síria de se libertar de Assad deixa o fornecimento de ajuda e armas aos rebeldes nas mãos das monarquias do golfo Pérsico, lideradas por Arábia Saudita e Qatar.
Na Líbia, os EUA escolheram "liderar dos bastidores". Na Síria, os americanos e seus aliados europeus decidiram "subcontratar" os supremacistas sunitas da região.
A consequência foi tornar o país um ímã para jihadistas (extremistas islâmicos) e fortalecer dentro da Síria a influência dos islamitas radicais.
A queda de Assad privará o Irã de seu maior aliado árabe. Isso pode encorajar Israel, sob o comando de um virtualmente reeleito Binyamin Netanyahu, a atacar as instalações nucleares iranianas.
Se Barack Obama quiser evitar ser arrastado a um conflito com o Irã, ele e seus aliados precisarão negociar metas realistas. Teerã tem de ser autorizada a enriquecer urânio em níveis baixos, sob estrita supervisão internacional e com o claro entendimento de que qualquer tentativa de desenvolver armas nucleares será cruzar a linha vermelha.
Se Israel continuar com a política de que a "linha vermelha" é não enriquecer urânio nenhum, a guerra parece inevitável. Isso permitirá a Teerã encurralar ainda mais seus cidadãos, consolidar bases no Iraque e no Líbano e se reafirmar no Oriente Médio.
Além disso, nada agradaria mais aos mulás do que reemergir como vanguarda da resistência contra grandes e pequenos Satãs e líderes dos xiitas contra os sunitas.
Na Arábia Saudita, a casa real vive crise sucessória. Dois príncipes morreram em pouco mais de um ano, e as cautelosas reformas do idoso e enfermo rei Abdullah evaporaram ante as revoltas na região e a assertividade do Irã.
A família real, ao mesmo tempo em que subsidia tudo -de moradia barata ao perdão de dívidas-, reprime a oposição e reforça o establishment religioso, sectário e contrário a reformas.
Por fim, Israel está perto de um ponto sem volta na relação com a Palestina. Os planos recentes de Netanyahu para expandir assentamentos em território ocupado matam por completo a ideia de um Estado palestino viável -os palestinos acabarão agrupados em bantustões.
É o tipo de situação que só pode levar à luta contra o "apartheid" e à provável reunificação dos palestinos, manchando o nome de Israel e colocando em questão o legítimo direito dos judeus a um Estado na Terra Santa.
Não há bússola infalível para esse campo minado. Mas hesitação sobre a Síria, ambiguidade estratégica em relação ao Irã e alinhamento automático a sauditas e israelenses não são o caminho.
Financial Times via Folha de São Paulo
DeOlhOnafigueira
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