Para analistas, pragmatismo terá de superar diferenças ideológicas
Quando levantar a mão em juramento na
segunda-feira, o presidente dos EUA, Barack Obama, terá pelo menos uma
certeza em relação a seu segundo mandato. Continuará lidando com um
aliado um tanto incômodo: o premier israelense Benjamin Netanyahu,
favorito absoluto a um novo mandato nas eleições desta terça-feira, em
Israel. Não é segredo que Obama e Netanyahu não se entendem em termos
ideológicos e diplomáticos nem nutrem apreço pessoal um pelo outro. Mas,
se os dois líderes não se cruzam, seus destinos - ditados por urnas a
milhares de quilômetros de distância - sim.
Antes mesmo da posse dos dois líderes, a pinimba em alto escalão voltou à tona, se tornando-se parte integrante da disputa eleitoral em Israel. Na terça-feira, o respeitado jornalista americano Jeffrey Goldberg publicou um artigo afirmando que Obama acredita que Netanyahu é um “covarde político” que conduz Israel ao isolamento internacional.
O artigo afirma que o presidente americano “nem se deu ao trabalho de ficar zangado” quando foi informado sobre a retaliação de Netanyahu à elevação do status dos palestinos na ONU - a construção de 3 mil novas casas em assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. “Ele (Obama) disse a várias pessoas que esse tipo de comportamento da parte de Netanyahu já era esperado, e sugeriu que já se habituou ao que ele vê como políticas autodestrutivas do colega israelense”, escreveu Goldberg.
O artigo afirma que o presidente americano “nem se deu ao trabalho de ficar zangado” quando foi informado sobre a retaliação de Netanyahu à elevação do status dos palestinos na ONU - a construção de 3 mil novas casas em assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. “Ele (Obama) disse a várias pessoas que esse tipo de comportamento da parte de Netanyahu já era esperado, e sugeriu que já se habituou ao que ele vê como políticas autodestrutivas do colega israelense”, escreveu Goldberg.
- Todos sabem que só os cidadãos israelenses vão determinar quem representará fielmente os interesses vitais do Estado de Israel.
Para a maioria
dos especialistas, nos novos mandatos, os dois líderes continuarão a se
comunicar praticamente só através de assessores. Segundo o cientista
político Avraham Diskin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, haverá
uma tensão clara, acentuada por duas nomeações que melindraram o governo
israelense: a do secretário de Defesa Chuck Hagel e a do secretário de
Estado John Kerry, considerados menos tolerantes quanto a Israel do que
os antecessores.
- Há realmente motivos para preocupação do lado
israelense. Até porque agora Obama não precisa mais agradar ninguém,
muito menos os eleitores judeus, em seu segundo mandato - afirma Diskin.
Negociações de paz
Apesar
das desavenças, as relações bilaterais continuam estreitas, e tanto
ativistas da causa judaica como analistas apostam em um envolvimento
maior do governo Obama na tentativa de reabrir as negociações entre
israelenses e palestinos.
- Esperamos que as relações entre EUA e
Israel continuem fortes e inabaláveis (para usar uma palavra do
presidente Obama), porque elas atendem aos interesses de ambos os países
de uma maneira profunda. Há interesses óbvios compartilhados, como a
preocupação com o arsenal químico e biológico da Síria e com a atividade
nuclear no Irã - disse David Harris, do American Jewish Committee, um
dos mais influentes grupos de defesa de Israel nos EUA.
Para Alon
Ben-Meir, professor de Relações Internacionais da New York University e
especialista nas negociações entre Israel e países árabes, seria um erro
fatal do governo americano deixar de se envolver decisivamente na
solução do conflito entre israelenses e palestinos.
- Esse
conflito pode muito bem ser a chave para muitos dos outros conflitos na
região, incluindo Irã, Síria, e pode até afetar a situação no Iraque. A
questão palestina tem uma enorme influência nas relações entre os EUA e o
mundo árabe, que espera que o governo americano faça mais pelo fim
desse conflito, que já dura seis décadas e meia - disse Ben-Meir.
Esta
não é a primeira vez que Israel e EUA se estranham. Em 1975, o
presidente Gerald Ford enviou uma carta ao então premier Yitzhak Rabin
afirmando que iria “reavaliar” o relacionamento com o país diante de um
desentendimento quanto à retirada israelense do Deserto do Sinai. E em
1991, George H. W. Bush pressionou Yitzhak Shamir a participar da
Conferência de Madri, que abriu caminho para os Acordos de Oslo.
Mas
desta vez os bate-bocas são envolvidos por humilhações mútuas e um
claro desprezo pessoal entre os líderes. Em 2009, Obama foi surpreendido
por um veemente “não” de Netanyahu ao pedido de congelar totalmente a
construção em assentamentos israelenses, incluindo em Jerusalém
Oriental. Além da negativa, Netanyahu ainda fez um discurso afirmando
que “Jerusalém não é uma colônia, é a capital de Israel”.
Pouco tempo
depois, Netanyahu aceitou frear, a contragosto, a construção em
assentamentos por dez meses, mas não em Jerusalém Oriental. E deu o
troco: durante visita do vice-presidente Joe Biden a Israel, foi
anunciado que, apesar do congelamento, as obras em 1.600 casas em
colônias, que já haviam começado, continuariam.
Encontro sem fotos
Foi
a gota d’água para que, em 2010, Obama convocasse o premier israelense
para um encontro a portas fechadas no Salão Oval da Casa Branca, sem
fotos, uma raridade quando presidentes americanos recebem líderes de
Estado. A humilhação, desta vez, foi para Netanyahu, que entrou no
edifício mais importante dos EUA pela porta dos fundos.
Analistas,
porém, consideram que a interdependência entre os dois países e a
necessidade de tomar decisões pragmáticas conjuntas, como a maneira de
lidar com o programa nuclear do Irã, forçarão os dois líderes a
trabalharem juntos.
Para Diskin, “Obama não terá a intenção de
polarizar a opinião pública americana, claramente pró-Israel”. Já
Ben-Meir avalia que “Israel já está muito isolado, e este é um dos
motivos pelos quais Netanyahu não pode desafiar os EUA”.
OGlobo
DeOlhOnafigueira
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