Uma
investigação sobre supostos casos de pedofilia cometidos por sacerdotes e
padres na cidade de Granada, no sul da Espanha, vem sacudindo o
Vaticano. Pela primeira vez em sua gestão, o Papa Francisco pediu perdão
pessoalmente a uma suposta vítima de abusos sexuais cometida por
religiosos, como parte de uma política de tolerância zero que ele vem
adotando contra a pedofilia dentro da igreja católica.
Investigações foram abertas e uma suposta rede de pedofilia na Diocese de Granada. Foto Catedral de Granada.
REUTERS/Pepe Marin
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Nesta quarta-feira, a Justiça recebeu outra denúncia de abuso sexual
cometida por um padre da catedral de Granada. Três sacerdotes e um
professor de religião já estão presos, e nesta quarta-feira prestaram
depoimento ao juiz responsável pelo caso. A imprensa local denunciou
ainda o roubo de computadores da Diocese de Granada na semana passada.
O caso veio à tona após um professor de 24 anos escrever uma carta ao
Vaticano no início deste ano denunciando abusos sexuais. Em cinco
páginas, ele contou ter sido abusado por um padre da catedral de Granada
dos 13 aos 18 anos.
Em agosto, para sua surpresa, o professor recebeu uma ligação em seu
celular do próprio Papa Francisco. O pontífice disse ter lido a carta e,
por isso, queria pedir desculpas pessoais por todo o sofrimento que o
episódio possa ter lhe causado em todos esses anos.
O Vaticano reconheceu a veracidade da história e o Papa Francisco
ordenou uma investigação interna sobre o caso.Em paralelo, o professor
espanhol também levou a denúncia ao Ministério Público. Após consultarem
o Vaticano e ouvirem outros moradores de Granada que afirmaram também
ter sofrido abusos sexuais na catedral, os procuradores denunciaram à
Justiça uma suposta rede de pedofilia dentro da Diocese da cidade.
Neste fim de semana, a Justiça expediu mandados de prisão a 12 pessoas acusadas de pedofilia, entre elas dez sacerdotes.
A partir da investigação judicial, a imprensa espanhola denunciou o
caso. O jornal "El País" publicou na íntegra a carta escrita pelo
professor espanhol ao Vaticano, e o portal de notícias "Religião
Digital", o primeiro a divulgar a história, reproduziu a conversa
telefônica entre o Papa Francisco e o professor autor da carta.
O Arcebispo de Granada renunciou ao cargo. Na segunda-feira, ele e
outros padres e sacerdotes se deitaram no chão durante missa
extraordinária na catedral de Granada para pedir desculpas pelo caso,
que abalou bastante a cidade, de forte tradição católica.
Além da intervenção histórica do Papa, o Vaticano reconheceu a
veracidade dos casos relatados pela imprensa espanhola e também pediu
desculpas públicas.
Papa fala sobre o caso em visita ao Parlamento
Na terça-feira, o Papa Francisco falou sobre o caso durante sua
visita ao Parlamento Europeu. Abrindo uma rara exceção em sua agenda,
ele respondeu a perguntas de jornalistas sobre o caso e disse que vive
uma grande dor por conta deste e outros episódios similares dentro da
igreja católica, mas que a verdade não pode mais ser escondida.
O Papa Francisco, vale lembrar, vem adotando uma política de
tolerância zero, como ele mesmo diz, contra a pedofilia na igreja. No
início deste mês, o Vaticano criou uma espécie de tribunal interno para
julgar, de forma urgente, apenas casos de abusos sexuais cometidos por
membros da igreja católica.
Entre 2004 e 2013, 848 religiosos foram afastados de seus cargos por
suposto envolvimento em casos de abuso sexual de menores, segundo dados
do próprio Vaticano.
Luisa Belchior, correspondente da RFI em Madri
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DeOlhOnafigueira
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