Nasceu no Palácio de Herodes em Jerusalém,
centro do poder judaico. Veio para o que era seu, e os seus o receberam, e com
muitas pompas!
Aos doze anos já discutia novas rotas
comerciais e estratégias de conquista com os conselheiros reais. Seu primeiro
milagre aconteceu num pomposo casamento na realeza. Transformou a água em suco
de caju, não por haver faltado bebida na festa, mas apenas para dar uma gorjeta
do seu poder. Poderia tê-la transformada em vinho, vodca, ou até whisky, se
quisesse. Mas preferiu não escandalizar a ala mais conservadora e
fundamentalista dos religiosos.
Aos 30 anos, foi batizado na piscina da
cobertura do palácio, por um dos profetas badalados da época. Enquanto descia
às águas, viu-se uma águia, símbolo de conquista, sobrevoar sua cabeça, e uma
voz que bradou de algum lugar: Este é o cara! Vai e arrasa!
Saiu dali e foi para uma região praiana tirar quarenta dias de férias antecipadas. Não precisou ser tentado em nada,
pois nunca se negou bem algum. Transformou pedras em pizza, só pra se divertir.
E ainda fez malabarismo no pináculo do templo, pra tirar uma onda com os
sacerdotes. No final das férias, subiu num monte bem alto, avistou os reinos
deste mundo e disse pra si mesmo: Tudo isso me darei!
Quando abordado por algum gentio, do
tipo daquele centurião que tinha um servo enfermo, dizia-lhe: Dá um tempo! Não
vim pra vocês, seus impuros, idólatras e ignorantes. E mais: Nunca vi tanta
petulância! Onde já se viu? Pedir por um serviçal! Além de gentio, é burro!
Ao deparar-se com um cobrador de impostos
desonesto, que subira numa árvore só pra lhe ver, disse-lhe: Como é que
é, meu irmão, vamos ou não vamos dividir esta grana? Desce logo, que tô com
pressa! E manda preparar a banheira com sais minerais do Mar Morto, porque hoje vou me hospedar na suíte de sua casa.
Ao ser tocado por uma mulher hemorrágica,
esbravejou: Tira essa louca daqui! Não sabe que a Lei proíbe qualquer
aproximação de uma pessoa em seu estado? Imunda!
Por onde passava, seus discípulos
estendiam um cordão de isolamento, para que leprosos, morféticos, cegos, endemoninhados,
e todo tipo de gente asquerosa não ousassem se aproximar do rei da cocada
preta.
Diferente era o trato que dispensava aos
fariseus e religiosos da época.
Em sua versão da parábola do bom
samaritano, quem socorria o moribundo era o sacerdote, que sem hesitar, tentava extorquir-lhe
uma gratificação. O samaritano era o assaltante, que negou-se a dividir a grana
com o levita.
- Venham a mim, todos os que querem alguma
vantagem da religião. Vocês serão cabeça e não cauda. Comerão o melhor da terra!
Unam-se a mim, e eu lhes farei milionários. Aprendam comigo, que sou malandro e
esperto de coração. Espertos são os que riem da desgraça alheia. Espertos são
os que gostam de ver o circo pegar fogo. Espertos são os que têm fome e sede de
sucesso. Eu saciarei seu ego!
Quando procurado por um jovem rico,
disse-lhe, sem o menor pudor: Quer sociedade? Vamos rachar esta grana? Vai ter
um lugar especial no meu reino, garoto...
E quando entrou em Jerusalém montado
naquele exuberante corcel branco 0 km? Foi tremendo! Não teve pra ninguém!
No episódio em que queriam executar uma
mulher flagrada em adultério, ele foi o que lançou a primeira pedra. Sua
política com os pecadores era de tolerância zero.
Ao visitar o templo, ficou super
orgulhoso com o que viu ali. Ainda saiu de mesa em mesa recolhendo a décima
parte do que fora obtido com o lucro das vendas dos animais para o sacrifício e
o ágio cobrado no câmbio. Criticava duramente os publicanos e as prostitutas,
mas com os fariseus e religiosos sobravam elogios.
Uma vez entrou num prostíbulo munido de
chicote. Achavam até que ele curtia uma onda sadomasoquista. Mas ele saiu
expulsando prostitutas e cafetões aos gritos: Seus porcos! Ousam transformar
minha zona numa casa de mãe Joana!
Cruz? Que cruz? Tá doido? Cruz é pra
gente como Jesus, aquele nazareno nascido numa manjedoura. Eu vim pra ter vida,
e vida com abundância. Quem quiser vir após mim, passa tudo o que tem pra minha
conta, e me siga. Ou tudo ou nada! Ou dá ou desce!
Revolucionário? Que nada! Graças a um
conchavo político feito às escuras com o Império Romano, garantiu para
si a sucessão de Herodes, e viveu muitos e muitos anos.
Ao descobrir que um dos seus asseclas o
estava traindo, sem dó nem piedade, mandou enforcá-lo. Quem o negou teve sua
língua decepada.
Ao morrer, farto de dias, confiou
seu legado a um grupo de discípulos seletos, que juraram que sua mensagem
jamais seria esquecida, e que ao longo dos séculos, sempre haveria quem a
promovesse em sua própria geração. Partiu ordenando que cada um dos seus
discípulos lhe beijasse os pés, em sinal de submissão. E que aprendessem a se
servir uns dos outros, e ainda se servir dos poderes constituídos, sem jamais
criticá-los ou censurá-los.
Promessa feita, promessa cumprida.
Basta ligar a TV, o rádio, ou mesmo
acessar a internet, para se dar conta de quantos dos seus discípulos ainda dão
eco à sua voz.
Por Hermes C. Fernandes
HermesFernandes
DeOlhOnafigueira
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