O ministro dos Serviços de Inteligência de Israel, Yisrael Katz, propôs à administração de Trump um plano de cinco pontos para fazer com que Irã e todas as forças pró-iranianas deixem a Síria. O cientista político, Vladimir Sazhin, revela para a Sputnik o conteúdo do plano e a possível reação do Oriente Médio e do mundo.
"Não é surpresa para ninguém que Israel é o segundo inimigo oficial do Irã depois dos EUA. A propósito, a República Islâmica do Irã (RII) é o único país do mundo que não reconhece a existência de tal Estado como Israel. É compreensível que Tel Aviv esteja preocupada com a crescente atividade política-militar de Teerã no Oriente Médio, especialmente, na Síria", diz o especialista em assuntos do Oriente Médio.Na véspera de sua visita a Moscou, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que o Irã visa usar Síria como um campo de operações militares na região, instalando nela de modo permanente suas forças terrestres e navais, o que permitirá "abrir contra Israel uma frente nas Colinas de Golã". Ele sublinhou estar prestes a expressar ao presidente Putin desacordo completo de Israel quanto ao caso.
Disse e fez isso mesmo em Moscou. Pode-se supor que o objetivo principal da visita de Netanyahu a Moscou era levar pessoalmente ao conhecimento de Putin o conceito de seu país: Israel se mostra a favor da retirada da maioria das forças iranianas, das milícias iraquianas controladas pelo Irã e dos grupos do Hezbollah.
Pode-se dizer que Moscou entendeu as preocupações de Israel. O vice-ministro das Relações Exteriores russo, Oleg Syromolotov, quem monitora as questões de combate ao terrorismo, em entrevista ao jornal The Jerusalem Post sublinhou: "Entendo as preocupações de Israel por causa da presença na Síria do Hezbollah e do Exército de Guardiães da Revolução Islâmica. Claro que estão preocupados que eles possam permanecer na Síria depois de a guerra acabar." Mas, o diplomata russo tentou acalmar os israelenses ao dizer que os militantes do Hezbollah pró-libanês assim como os militares iranianos deixarão a Síria assim que o conflito no país esteja regularizado.
Esta questão também foi discutida no âmbito das conversações decorridas em Astana em 14 e 15 de março entre os representantes da Rússia, Irã e Turquia. Uma das tarefas da Rússia será controlar a retirada das milícias xiitas fiéis a Bashar Assad de algumas das regiões sírias.
Segundo analistas, a retirada do Hezbollah e outras tropas xiitas é um dos assuntos principais da regularização. Toda a comunidade sunita, inclusive os sunitas sírios, considera os xiitas na síria como ocupantes.
Vale destacar que, em muitos países, inclusive os ocidentais e os árabes, não mencionando Israel, o Hezbollah é declarado um grupo terrorista.
Supõe-se que ao receber certo apoio de Moscou (trata-se de um acordo não oficial russo-israelense de acordo com o qual Tel Aviv não tem nada contra a operação russa contra terrorismo na Síria, e Moscou não reage aos ataques de Israel contra Hezbollah, forças iranianas e às vezes pró-iranianas no território da Síria), os israelenses querem restabelecer e aprofundar as relações de aliança americano-israelenses no Oriente Médio.
Foi esta a mais provável razão da visita do premiê israelense dos Serviços de Inteligência e membro do órgão político-militar israelense, Yisrael Katz, a Washington. Ele propôs para a administração norte-americana desenvolver um documento conjunto sobre princípios das ações de dois aliados, que visam eliminar as forças do Irã da Síria. Segundo o ministro, o documente deve incluir cinco pontos:
- Reconhecimento pelos EUA da soberania de Israel nas Colinas de Golã
- Recusa da presença permanente do Irã na Síria.
- Introdução de sanções contra o Irã para que o regime de Teerã pare de prestar ajuda militar e financeira ao Hezbollah e a outras organizações terroristas na região.
- Endurecimento das sanções contra Hezbollah.
- Esforços conjuntos americano-israelenses para cortar as tentativas do Irã de ampliar sua expansão no Iraque e Síria até as fronteiras libanesas.
Vale mencionar, que os países árabes, incluindo os do Golfo Pérsico, o Egito, a Jordânia, estão prontos para apoiar este projeto. Levando em consideração que o inimigo estratégico-militar deles, ou seja o Irã, está reforçando suas posições perto das Colinas de Golã, estes países estão prestes a fechar seus olhos para necessidade de incluir este território dentro das fronteiras lestes de Israel, existentes até o ano de 1967.
Além disso, o ministro Katz preparou mais um presente para as monarquias do Golfo. Trata-se do projeto (com mapas de roteiros e faturas) de uma ferrovia a partir dos portos do Golfo através do território da Jordânia até à Cisjordânia e à costa mediterrânea de Israel (Haifa). Uma ferrovia Golfo Pérsico — Mar Mediterrâneo reduzirá em 10 vezes a distância do tráfego de carga em 600 quilômetros em comparação com o caminho marítimo através do canal de Suez, o que diminuirá em 10 vezes as despesas com transporte. É um projeto muito atraente. Não contradiz o conceito de união de todos os inimigos de Teerã e cria uma base econômica para uma aliança informal dos Estados anti-iranianos.
Parece que a iniciativa de Katz serve de base ideológica e estratégia para formar uma aliança anti-iraniana, sobre o que falavam tanto há um tempo. Trata-se de um bloco político-militar com a participação da Arábia Saudita, EAU, Egito e da Jordânia, e de outros países mais tarde. Israel, assim como os EUA, não será membro do bloco, mas prestarão ajuda na área de inteligência, organização e técnico-militar. O objetivo principal da aliança é conter o Irã.
Resumindo, Israel se esforça em enfraquecer as posições de seu adversário político-militar, o Irã, e apela à administração norte-americana para apoiar sua política.
No entanto, hoje em dia, nem tudo no Oriente Médio depende de Israel e dos EUA. A Rússia desempenha na região um papel importantíssimo e intransigente. Somente o tempo dirá se os interesses da Rússia coincidem com a nova política israelense em relação à Síria, Irã e Oriente Médio.
Vladimir Sazhin para a Sputnik Persa.
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