terça-feira, 13 de novembro de 2012

Estamos entrando na “desglobalização”?

Vivemos uma pausa na tendência ao"Made in the World" 
 
Foto: Univesp
Após mais de duas décadas de integração e codependência financeira, a economia mundial está diante de um ponto de inflexão. Isto porque a globalização, termo onipresente para justificar sucessos ou fracassos de empresas e países, está entrando numa fase de hibernação; num período de "desglobalização".

Entre a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a crise que eclode em 2008, o mundo viveu uma "globalização profunda". A integração entre os países impulsionou a interdependência produtiva, financeira e comercial. União Europeia e o Mercosul constituíram-se.

Hoje, os Estados Unidos se veem em crise existencial. O Ocidente criticado pelo próprio Ocidente, como demonstra o "Occupy Wall Street". O paradigma dos blocos econômicos, vigoroso há alguns anos, encontra-se sem fôlego. A União Europeia em meio à "satelitização" em torno de Berlim.

O Mercosul funciona mais pela afinidade política dos atuais chefes de governo do que pela lógica dos ganhos de escala ou comércio intrabloco. É este contexto que acentua o risco de desglobalização.

Protecionismo, fluxo obstaculizado de investimentos; dificuldade no trânsito fronteiriço de pessoas. Momento de individualismo nacional que vai contra o ideal de globalização.

O efeito causado por uma possível desglobalização pode ser ilustrado como o ato de assistir a um jogo de futebol da arquibancada. Às vezes, o sujeito da primeira fila fica em pé para ver melhor, então o de trás é obrigado a se levantar também.

Sucessivamente, se todos ficarem em pé, ninguém vai ver melhor. Da mesma forma, cada país que fecha mercado faz com que a economia como um todo tenha um subdesempenho. Diversos exemplos mostram a inversão do movimento das economias.

China, Brasil e Estados Unidos já impõem um mínimo (elevado) de produção local para empresas que queiram vender algo em seus territórios. Estamos vivendo uma pausa na tendência ao "Made in the World".

Nesse interlúdio, os países mais aptos serão os que contarem com forte capitalização e robustas reservas cambiais. A China surge com força, já que possui US$ 3,5 trilhões de reservas, poupando praticamente 45% do PIB. Mesmo que a economia esfrie, tem músculo para potencializar políticas contracíclicas.

Em termos de robustez macroeconômica, o Brasil também não está mal. Aliás, talvez esteja diante do melhor cenário macroeconômico da sua história.

No entanto, o sucesso depende também da microeconomia. Empresas que chegam ao Brasil gastam mais em contadores e advogados do que com engenheiros, soldadores e técnicos.

Curiosamente, o processo de desglobalização pode não ser tão sentido no Brasil, uma das economias mais fechadas do mundo. Do descobrimento até hoje, se excluirmos os ciclos de exportação de commodities, em raras ocasiões tivemos mais de 20% do PIB como resultado da soma de importações e exportações.

Em um país onde empresas padecem ante altas taxas tributárias e trabalhistas, sobra pouco para investir em tecnologia e novos conhecimentos. Assim, como os países voltaram a se organizar em torno de si próprios, essa desglobalização ajuda a ocultar a falta de competitividade brasileira.
 
Diário da Rússia

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