quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Papa sai mas os problemas continuam

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Quando forem hoje 20 horas em Roma, o Papa Bento XVI vai demitir-se do cargo de Sumo Pontífice, abandonando a Santa Sé. Peritos têm afirmado que a decisão de resignar resulta de uma grave crise vivida hoje pelo Catolicismo. Dizem que os múltiplos problemas que se acumularam ao longo de decênios e eram silenciados pelo Vaticano não foram resolvidos. Antes pelo contrário, se agravaram muito mais.

De notar que o período de governo de Joseph Ratzinger foi marcado por escândalos internacionais que produziram fortes repercussões no mundo inteiro. Um deles surgiu após as críticas que, em 2006, o Papa Bento XVI dirigiu à doutrina religiosa muçulmana. Foi este fator que veio determinar, em larga medida, o caráter bastante agressivo do Islã contemporâneo nos países europeus, considera o perito Yuri Tabak.

"O Papa Bento XVI citou então uma mensagem do Imperador bizantino Manuel II Paleólogo em que o profeta Maomé se apresentava como uma figura de ânimos belicistas e agressivos. Tal discurso provocou uma reação negativa e o descontentamento do mundo muçulmano."

Passado um ano, em julho de 2007, o número de descontentes aumentou à custa dos judeus, que protestavam contra a reintrodução do ministério da Missa Tridentina.

"É que na Sexta-Feira Santa, a missa que se celebra nesse dia contém excertos pouco abonatórios em relação aos judeus que crucificaram Cristo. Altura houve em que o Papa João XXIII suprimiu as referências das preces citadas acima. Mas Bento XVI voltou a incluí-las, o que originou críticas no meio das comunidades judaicas."

Os atritos entre o Vaticano e Israel também voltaram a agravar-se quando, em 2009, o Papa Bento XVI deliberou readmitir quatro sacerdotes britânicos excomungados, entre os quais se encontrava o dissidente e crítico convicto do Holocausto Richard Williams.

Os últimos escândalos em que o nome do Sumo Pontífice cessante figura se relacionam com a conduta de sacerdotes pedófilos. Não obstante os insistentes apelos lançados pela Santa Sé no sentido de combater este fenômeno hediondo, o Papa Bento XVI nem sempre seguiu a lógica das exortações, frisa Yuri Tabak.

"Há uns cinco anos, o Papa redigiu uma carta a um sacerdote californiano, acusado de ter violado dois meninos inocentes. Naquela mensagem, Bento XVI insistiu em que o réu fosse tratado com um especial zelo e a solicitude, o que causou a indignação das pessoas."

A isto tudo se somaram vários problemas persistentes dentro da Igreja Católica: uma parte dos sacerdotes começou a solidarizar-se com os apoiantes da revogação do celibato, ouviram-se exigências de permitir o uso de contracetivos e de legalizar os abortos. Alguns até se pronunciaram pela legalização de casamentos homossexuais. As tendências liberais, introduzidas pelo mundo laico em constante e rápida mudança, acabaram por afetar e triunfar sobre algumas das antigas tradições do Catolicismo Romano. À luz disso, vendo claramente que o Vaticano, na pessoa do Bento XVI, nem sequer tentava corrigir a sua doutrina, mas até procurava endurecer os princípios dogmáticos conservadores, os fiéis na Europa começaram a abandonar a Igreja.

Esperava-se que ainda antes da renúncia, fossem divulgados resultados do inquérito sobre o escândalo Vatileaks, envolvendo documentos secretos que vazaram do Vaticano e foram postos à disposição de jornalistas. Todavia, o Papa cessante preferiu não divulgar esta informação, assim como não pôr a nu outros problemas existentes na Igreja Católica, mas deixá-los para o exame e o juízo do futuro chefe da Igreja Católica Romana.
 
Voz da Rússia
DeOlhOnafigueira

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