Imagem: Neccint.wordpress |
Uma pesquisa publicada nesta terça-feira (2) reafirma o pessimismo geral sobre o “processo de paz”, ao qual o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, tem se dedicado. Apenas 27% dos palestinos e 10% dos israelenses pensam que os dois lados retornarão às negociações e que a violência cessará. A falta de confiança tem definido as negociações entre Israel e Palestina, enquanto a falta de compromisso do primeiro é a peça fundamental de um longo impasse.
A pesquisa, noticiada pela agência palestina de notícias Wafa, foi conduzida pelo Instituto de Pesquisas Harry S. Truman para o Avanço da Paz, da Universidade Hebraica de Jerusalém, e pelo Centro Palestino para Políticas e Pesquisas de Opinião de Ramallah (Cisjordânia).
A pesquisa, noticiada pela agência palestina de notícias Wafa, foi conduzida pelo Instituto de Pesquisas Harry S. Truman para o Avanço da Paz, da Universidade Hebraica de Jerusalém, e pelo Centro Palestino para Políticas e Pesquisas de Opinião de Ramallah (Cisjordânia).
Outro resultado é o de que 44% dos israelenses e 15% dos palestinos opinam que os dois lados não retornarão às negociações e que os ataques armados não cessarão.
Pesquisas deste gênero são comuns em momentos em que se propõem negociações para a resolução do conflito, sobretudo em um caso como o israelense-palestino, em que a falta de confiança mútua entre as partes é patente, e em que o não comprometimento da potência ocupante, em um conflito tão assimétrico, mantém a situação de status quo, que é considerada, de forma questionável, favorável à potência.
Os resultados da pesquisa também indicam que cada lado percebe o outro como uma ameaça para a sua própria existência: 57% dos palestinos pensam que os objetivos de Israel é a anexação completa das terras palestinas, ou seja, a extensão das suas fronteiras para cobrir toda a área entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.
A suposição não é infundada: este objetivo é reiterado pelos grupos de colonos judeus que já ocupam territórios palestinos, com bastante frequência, referindo-se assim à “Terra de Israel”. Cabe lembrar, ainda, que o atual governo israelense é um dos mais representativos deste grupo, já que líderes de associações de colonos ocupam importantes cargos políticos.
Por outro lado, também 37% dos israelenses dizem acreditar que as aspirações palestinas centram-se na conquista do Estado de Israel e na destruição da população judia em Israel, e 17% acreditam que o objetivo dos palestinos é a conquista do Estado de Israel.
Posições de negociação
A presença do secretário de Estado dos EUA John Kerry na Palestina e em Israel, neste fim de semana, serviu para reafirmar o compromisso estadunidense com um “processo de paz” vazio, em que muitas concessões são esperadas do lado palestino, mas poucos compromissos israelenses são demandados.
Após o encontro entre Kerry e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, neste domingo (30/6), o chefe da equipe negociadora da Palestina, Saeb Erekat, reafirmou o compromisso com as negociações, lembrando que a retirada de Israel para trás das fronteiras de 1967 (como reconhecidas internacionalmente antes da ocupação de porções palestinas, a partir da Guerra dos Seis Dias, naquele ano), a libertação de prisioneiros palestinos e o congelamento das construções de colônias judias “não são condições palestinas, e sim obrigações israelenses”.
A crença dos 37% de israelenses em um objetivo palestino de conquista do seu Estado é cuidadosamente construída pela mídia radical e pelos discursos de judeus extremistas no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que formou uma coalizão endurecida e de um intensificado sionismo (ideal judeu em que se baseia o colonialismo e a opressão atual dos palestinos), no começo deste ano.
Os palestinos já reconheceram o Estado de Israel quando isso lhes foi exigido antes, durante outro dos “processos de paz”. Na década de 1970, os Acordos de Camp David formaram uma base sólida para a tradição em que os palestinos eram pressionados e oprimidos em prol da
“concessão”, e em que os israelenses conseguiam o que queriam, sem contrapartidas (nem mesmo o congelamento das construções ilegais em terras palestinas, que têm tornado a visão de um Estado palestino cada vez mais turva).
Além disso, a retomada da Iniciativa de Paz Árabe, proposta em 2002 pela Liga Árabe, coloca mais uma vez uma interrogante sobre a postura dos vizinhos, já que o plano é visto por muitos analistas como mais uma concessão palestina e condescendência com Israel.
Desde 1996, pouco depois da assinatura dos Acordos de Oslo (1993), quando Netanyahu foi eleito o primeiro-ministro israelense pela primeira vez, ele tem se manifestado favorável ao “processo de paz”, mas também tem feito muito para contribuir com o fracasso de uma solução de dois Estados, mantendo cuidadosamente a violência e a opressão contra os palestinos.
A extensão de um “processo” sem conclusões, com negociações infindáveis e compromissos vazios das autoridades israelenses explica a desconfiança palestina nas negociações e na disposição dos israelenses com o estabelecimento do Estado da Palestina. Já a desconfiança israelense é baseada na distorção frequente da situação e da relação opressor-oprimido, que se baseia no discurso de vitimização para legitimar a violência e a ocupação israelense sobre a Palestina.
Vermelho
DeOlhOnafigueira
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