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domingo, 20 de janeiro de 2013

Aliança EUA-Israel à sombra de desavença entre líderes

Para analistas, pragmatismo terá de superar diferenças ideológicas

Trabalhador instala cartaz do premier israelense Benjamin Netanyahu, favorito absoluto a um novo mandato nas eleições de terça-feira
Foto: BAZ RATNER / REUTERS/Baz Ratner
Trabalhador instala cartaz do premier israelense Benjamin Netanyahu, favorito absoluto a um novo mandato nas eleições de terça-feira BAZ RATNER / REUTERS/Baz Ratner
Quando levantar a mão em juramento na segunda-feira, o presidente dos EUA, Barack Obama, terá pelo menos uma certeza em relação a seu segundo mandato. Continuará lidando com um aliado um tanto incômodo: o premier israelense Benjamin Netanyahu, favorito absoluto a um novo mandato nas eleições desta terça-feira, em Israel. Não é segredo que Obama e Netanyahu não se entendem em termos ideológicos e diplomáticos nem nutrem apreço pessoal um pelo outro. Mas, se os dois líderes não se cruzam, seus destinos - ditados por urnas a milhares de quilômetros de distância - sim.

Antes mesmo da posse dos dois líderes, a pinimba em alto escalão voltou à tona, se tornando-se parte integrante da disputa eleitoral em Israel. Na terça-feira, o respeitado jornalista americano Jeffrey Goldberg publicou um artigo afirmando que Obama acredita que Netanyahu é um “covarde político” que conduz Israel ao isolamento internacional.

O artigo afirma que o presidente americano “nem se deu ao trabalho de ficar zangado” quando foi informado sobre a retaliação de Netanyahu à elevação do status dos palestinos na ONU - a construção de 3 mil novas casas em assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. “Ele (Obama) disse a várias pessoas que esse tipo de comportamento da parte de Netanyahu já era esperado, e sugeriu que já se habituou ao que ele vê como políticas autodestrutivas do colega israelense”, escreveu Goldberg.

Sem citar o artigo, Netanyahu reagiu:

- Todos sabem que só os cidadãos israelenses vão determinar quem representará fielmente os interesses vitais do Estado de Israel.

Para a maioria dos especialistas, nos novos mandatos, os dois líderes continuarão a se comunicar praticamente só através de assessores. Segundo o cientista político Avraham Diskin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, haverá uma tensão clara, acentuada por duas nomeações que melindraram o governo israelense: a do secretário de Defesa Chuck Hagel e a do secretário de Estado John Kerry, considerados menos tolerantes quanto a Israel do que os antecessores.

- Há realmente motivos para preocupação do lado israelense. Até porque agora Obama não precisa mais agradar ninguém, muito menos os eleitores judeus, em seu segundo mandato - afirma Diskin.

Negociações de paz
Apesar das desavenças, as relações bilaterais continuam estreitas, e tanto ativistas da causa judaica como analistas apostam em um envolvimento maior do governo Obama na tentativa de reabrir as negociações entre israelenses e palestinos.

- Esperamos que as relações entre EUA e Israel continuem fortes e inabaláveis (para usar uma palavra do presidente Obama), porque elas atendem aos interesses de ambos os países de uma maneira profunda. Há interesses óbvios compartilhados, como a preocupação com o arsenal químico e biológico da Síria e com a atividade nuclear no Irã - disse David Harris, do American Jewish Committee, um dos mais influentes grupos de defesa de Israel nos EUA.

Para Alon Ben-Meir, professor de Relações Internacionais da New York University e especialista nas negociações entre Israel e países árabes, seria um erro fatal do governo americano deixar de se envolver decisivamente na solução do conflito entre israelenses e palestinos.

- Esse conflito pode muito bem ser a chave para muitos dos outros conflitos na região, incluindo Irã, Síria, e pode até afetar a situação no Iraque. A questão palestina tem uma enorme influência nas relações entre os EUA e o mundo árabe, que espera que o governo americano faça mais pelo fim desse conflito, que já dura seis décadas e meia - disse Ben-Meir.

Esta não é a primeira vez que Israel e EUA se estranham. Em 1975, o presidente Gerald Ford enviou uma carta ao então premier Yitzhak Rabin afirmando que iria “reavaliar” o relacionamento com o país diante de um desentendimento quanto à retirada israelense do Deserto do Sinai. E em 1991, George H. W. Bush pressionou Yitzhak Shamir a participar da Conferência de Madri, que abriu caminho para os Acordos de Oslo.

Mas desta vez os bate-bocas são envolvidos por humilhações mútuas e um claro desprezo pessoal entre os líderes. Em 2009, Obama foi surpreendido por um veemente “não” de Netanyahu ao pedido de congelar totalmente a construção em assentamentos israelenses, incluindo em Jerusalém Oriental. Além da negativa, Netanyahu ainda fez um discurso afirmando que “Jerusalém não é uma colônia, é a capital de Israel”. 

Pouco tempo depois, Netanyahu aceitou frear, a contragosto, a construção em assentamentos por dez meses, mas não em Jerusalém Oriental. E deu o troco: durante visita do vice-presidente Joe Biden a Israel, foi anunciado que, apesar do congelamento, as obras em 1.600 casas em colônias, que já haviam começado, continuariam.

Encontro sem fotos
Foi a gota d’água para que, em 2010, Obama convocasse o premier israelense para um encontro a portas fechadas no Salão Oval da Casa Branca, sem fotos, uma raridade quando presidentes americanos recebem líderes de Estado. A humilhação, desta vez, foi para Netanyahu, que entrou no edifício mais importante dos EUA pela porta dos fundos.

Analistas, porém, consideram que a interdependência entre os dois países e a necessidade de tomar decisões pragmáticas conjuntas, como a maneira de lidar com o programa nuclear do Irã, forçarão os dois líderes a trabalharem juntos.

Para Diskin, “Obama não terá a intenção de polarizar a opinião pública americana, claramente pró-Israel”. Já Ben-Meir avalia que “Israel já está muito isolado, e este é um dos motivos pelos quais Netanyahu não pode desafiar os EUA”.

OGlobo
DeOlhOnafigueira

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