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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Recusa de embaixador: Israel sobe o tom contra Brasil

O governo israelense elevou o tom neste domingo (27/12) e pediu que o Brasil aceite a nomeação do ex-dirigente colono Dani Dayan como embaixador no país. A vice-ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Hotovely, ressaltou, em entrevista à emissora Canal 10, que seu país não tem intenção de enviar outro diplomata a Brasília.
 
Em mensagens privadas, Itamaraty afirmou que prefere um embaixador que não represente a colonização judaica da Palestina. Até agora, o Brasil não enviou o agrément, documento que significa um “aceite” do novo embaixador, em um movimento que tem sido visto por Israel como de recusa de Brasília ao nome de Dayan.

"Eles não podem vetar Dayan só pelo fato de ser um colono. (…) Se não o aceitarem, criará uma crise e melhor não chegarmos até isso", afirmou Hotovely sinalizando o início de uma possível "crise diplomática" entre os dois países e afirmou que, caso o nome não seja aceito, a embaixada ficará a cargo do número 2 da diplomacia do país no Brasil.

De acordo com Hotovely, que é chefe interina da diplomacia israelense – o cargo é exercido pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu –, Israel administrou o problema até agora de "forma discreta", mas passará a adotar "ferramentas alternativas públicas", entre a imprensa contra o que considera ser um veto de caráter ideológico.

"Nunca houve na história de Israel uma situação na qual um embaixador não foi aceito por suas posturas ideológicas", disse.

O governo de Israel confirmou a designação de Dayan em setembro, mas, desde então, o Brasil não respondeu sobre a nomeação. Para o colono, trata-se um exemplo clássico das atuações do movimento BDS (Boicote-Desenvolvimento-Sanções) contra Israel em defesa da Palestina.

“Não houve pressão suficiente”
Neste sábado (26/12), Dayan criticou Netanyahu. Segundo ele, o primeiro-ministro não pressionou o governo de Dilma Rousseff o suficiente. “O Ministério de Relações Exteriores, incluindo o ministro, que é também premiê, acredita que, agora, a maneira de se lidar com a situação que se criou é usar uma política de esperar para ver”, afirmou Dayan.

Segundo ele, Tel Aviv age “como na famosa piada judaica, em que ou o cachorro ou o nobre irá morrer”. “Não excluo a possibilidade de que haja também esperança de que eu seja ou o cachorro, ou o nobre, e anuncie simplesmente que vou retirar minha candidatura e resolver o problema para eles”, diz.

A nomeação de Dayan foi anunciada publicamente pelo governo de Netanyahu no dia 6 de setembro, surpreendendo o governo brasileiro, já que a divulgação foi contrária às normas diplomáticas que exigem que tal pedido seja feito de forma sigilosa.

Assentamentos
Nascido em Buenos Aires e formado em Finanças, Dayan foi presidente do Conselho Yesha (2007-2013), órgão responsável por assentamentos judaicos na Cisjordânia que violam o direito internacional, bem como os acordos da ONU nos territórios palestinos, o que desagrada Brasília.

As importantes posições ocupadas por Dayan na representação de organismos de colonos na Cisjordânia e a sua indicação abrupta e extraoficial por parte de Netanyahu são os dois principais motivos pelos quais — especula-se — o Itamaraty ainda não se posicionou quanto à aceitação do pedido de "agrément".

“Não sei se serei o embaixador no Brasil e, pessoalmente, não me importa muito”, disse o nomeado para o Haaretz. “Aliás, isso tornaria as coisas muito mais fáceis para mim [não ir para o Brasil], mas estou lutando pelo próximo embaixador que venha a ser um colono. Do ponto de vista de consciência e ideologia, não estou preparado para permitir que eu seja aquele que criou o precedente de que um residente da Judeia e da Samaria [a Cisjordânia] ou mesmo um presidente do Conselho Yesha não possa representar o governo de Israel lá fora.”

Já ao Canal 2, uma emissora de TV israelense, Dayan pediu que Netanyahu retaliasse firmemente a atitude do Brasil, segundo reportado pelo jornal Times of Israel, citando o caso da União Europeia, que passou a rotular produtos fabricados nos territórios ocupados como “produtos das colônias de Israel”. Em resposta, Tel Aviv suspendeu membros da UE das conversações de paz com palestinos.

Reações negativas
A indicação de Dayan para Brasília teve reação negativa de parte de políticos israelenses. Em entrevista em outubro a Opera Mundi, Mossi Raz, ex-deputado do partido de esquerda Meretz e líder de uma coalizão de direitos humanos em Israel, criticou a nomeação.

“Ele [Dayan] era o líder de uma organização cuja essência violava o direito internacional. Se o Brasil aceitá-lo seria uma forma de reconhecer como legítimos esses assentamentos. O Brasil é um dos mais importantes e maiores Estados do mundo. Sua importância também advém do fato de que muitos palestinos e judeus vivem no Brasil”, afirmou Raz.

Em carta à presidente Dilma, o deputado Yousef Jabareen, da coalizão árabe-judaica de orientação socialista Joint List, pediu que não seja aceita a indicação de Tel Aviv. "Dayan tem repetidamente agido com desrespeito à lei e às normas internacionais, e tem liderado diversas iniciativas que violam diretamente os direitos fundamentais do povo palestino", escreveu.

Movimentos sociais brasileiros também criticam a nomeação de Dayan em um manifesto assinado por mais de 30 organizações. Para Sérgio Storch, membro do Juprog (Judeus Brasileiros Progressistas), a nomeação de Dayan gerou uma queda de braço nos bastidores. “Netanyahu, astutamente, não consultou o governo brasileiro com o pedido de agrément que é convenção na diplomacia. Com isso, o Brasil pode dizer sim ou não, e ele pode vencer pelo desgaste e pelo cansaço”, argumentou.

Por sua vez, Pedro Charbel, coordenador latino-americano do Comitê Nacional Palestino de BDS, declarou esperar que Dilma permaneça crítica à nomeação de Dayan. “Esperamos que a presidenta mantenha este posicionamento no caso de Israel seguir adiante com a indicação", falou.

Na abertura da Assembleia Geral da ONU no fim de setembro, Dilma já havia reiterado que, assim como não se pode postergar a criação de um Estado palestino que coexista pacificamente com Israel, não se poderia mais permitir a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia.

Opera Mundi via Últimos Acontecimentos
DeOlhOnafigueira
 
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