Putin falou da necessidade de uma "nova
ordem mundial", com o objetivo de estabilizar o planeta. Para ele, os
EUA já abusaram demais, no papel de líder global.
O que pouco se noticia, contudo, é que os pilares que sustentavam aquela velha ordem vêm ruindo há anos.
O que pouco se noticia, contudo, é que os pilares que sustentavam aquela velha ordem vêm ruindo há anos.
Futura Nova Ordem Mundial? Não. Ela já está aqui
Bryan MacDonald, Russia Today - http://goo.gl/U6WBKB
Antes,
era tudo tão simples! O mundo estava dividido em dois campos: o
ocidente e o resto. E o Oeste, o ocidente, era de fato o melhor. Há 20
anos, seis das maiores economias do planeta estavam integradas ao mundo
pró-Washington.
O líder, os próprios EUA, estavam tão à frente, que o PIB, ali, era mais de quatro vezes maior que o da China e nove vezes maior que o da Rússia.
O país mais populoso do mundo, a Índia, tinha quase a mesma renda bruta que os comparativamente minúsculos Itália e Reino Unido. Qualquer noção de que a ordem mundial mudaria tão dramaticamente em apenas duas décadas soava como piada.
A percepção ocidental era que China e Índia eram atrasadas e se passaria um século antes que se tornassem concorrentes. A Rússia era vista como uma espécie de lata de lixo, de cócoras e governada pelo caos. Nos anos 1990s, boa parte disso tudo, sim, fazia algum sentido.
Aqui, um resumo da economia mundial, nos anos 1990s e hoje:
O líder, os próprios EUA, estavam tão à frente, que o PIB, ali, era mais de quatro vezes maior que o da China e nove vezes maior que o da Rússia.
O país mais populoso do mundo, a Índia, tinha quase a mesma renda bruta que os comparativamente minúsculos Itália e Reino Unido. Qualquer noção de que a ordem mundial mudaria tão dramaticamente em apenas duas décadas soava como piada.
A percepção ocidental era que China e Índia eram atrasadas e se passaria um século antes que se tornassem concorrentes. A Rússia era vista como uma espécie de lata de lixo, de cócoras e governada pelo caos. Nos anos 1990s, boa parte disso tudo, sim, fazia algum sentido.
Aqui, um resumo da economia mundial, nos anos 1990s e hoje:
Maiores Economias, pelo PIB, ajustado por paridade do poder de compra (PPC)
1995 PIB em bilhões de USD) | 2015 PIB estimado pelo FMI |
EUA 7,664 | China 19,230 |
Japão 2,880 | EUA 18,287 |
China 1,838 | Índia 7,883 |
Alemanha 1,804 | Japão 4,917 |
França 1,236 | Alemanha 3,742 |
Itália 1,178 | Rússia 3,643 |
Reino Unido 1,161 | Brasil 3,173 |
Índia 1,105 | Indonésia 2,744 |
Brasil 1,031 | França 2,659 |
Rússia 955 | Reino Unidos 2,547 |
Fonte: Banco Mundial
Crepúsculo dos EUA
Hoje, a piada é o ocidente. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que, em 2015, quatro das principais economias do mundo estarão incluídas no grupo hoje conhecido como BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China. A China substituirá os EUA como lobo guia da matilha. Pode até já ter acontecido: os números da economia sempre aparecem depois dos fatos da economia.
A Itália, a doente da Europa, já saiu dos '10 mais'; e o Reino Unido mal se mantém pendurado, por mais que Londres continue a ser promovida como poderoso centro financeiro. Só criancinhas, na Inglaterra, ainda creem nisso. O Reino Unido está convertido numa Julie Andrews da geopolítica - estrela que se vai apagando, depois de ter luzido com tanto brilho. A França é impotente, saltando de crise em crise, sempre com novas trapalhadas, até voltar a mergulhar em nova crise.
Ainda é cedo para descartar completamente os EUA. O império não se acabará assim, do dia para a noite, mas o sol já está bem baixo no horizonte. É menos culpa dos EUA e, mais, resultado da perda de importância relativa de seus tradicionais aliados.
De fato, os únicos aliados dos EUA que ainda se seguram são Alemanha e Japão - nenhum dos quais é ator militar importante. Grã-Bretanha e França foram, por muito tempo, fornecedoras da carga pesada para aventuras marciais. Verdade é que a Alemanha não é parceira lá muito entusiasmada, porque grande parte da classe política em Berlim tem sérias dúvidas quanto ao poderio dos EUA. Muitos, na intelligentsia alemã, sentem que seu aliado natural é Moscou, não Washington.
O crescimento na importância dos BRICs e de outros países emergentes têm implicações imensas sobre o consumo, os negócios e os investimentos globais. Em 2020, pelas estimativas do FMI, a economia russa já terá ultrapassado a alemã, e a Índia terá deslocado, do quadro, o Japão. O mesmo FMI também prevê redução na fatia global dos EUA, de 23,7% em 2000, para 16% em 2020. Em 1960, os EUA representavam 38,7% da economia mundial. A China, por sua vez, mal chegava a 1,6%; no final dessa década, a China já terá chegado a 20%. O mundo não conhece mudança tão forte, em prazo tão relativamente curto.
A importância da estabilidade
O discurso de Putin no Valdai Club [ing., no blog do Saker; em tradução (NTs)] não foi estocada no escuro. Vê-se ali compreensão nuançada sobre onde está o equilíbrio global hoje e em que direção andará nos próximos anos. A hegemonia dos EUA sempre se baseou no fato de que, com os seus aliados, os EUA controlavam o cerne do comércio global, além de sempre empunharem um gordo porrete militar. Isso, hoje, é história.
Mas a imprensa-empresa ocidental, em vez de aprofundar a discussão proposta por Putin, pôs-se a chutar as canelas do artista, em vez de chutar a bola. Muitas colunas apresentaram o discurso como "diatribe" e assumiram que Putin só teria focado a política exterior dos EUA, que, na opinião dele, seria anti-Rússia.* Nada mais longe do que realmente importa.
A preocupação de Putin é reencontrar e manter a estabilidade e a previsibilidade, exatamente a antítese do neoliberalismo ocidental moderno. Na verdade, a posição de Putin aproxima-se mais de outras visões para promover a ordem mundial, que brotaram da União Democrática Cristã [al. CDU] de Konrad Adenauer na Alemanha e dos Tories britânicos de Harold Macmillan -, do conservadorismo europeu clássico.
Putin é quase sempre mal compreendido no ocidente. Suas declarações públicas, orientadas sempre mais para a audiência doméstica que para a grande vitrine internacional, não raro soam agressivam, quase chauvinistam. Mas os observadores bem fariam se não esquecessem que Putin é grande-mestre de judô, cujos movimentos são calculados para confundir e desequilibrar o adversário. Se se leem as entrelinhas, o presidente russo está interessado em engajamento, não em isolamento.
O presidente da Rússia vê seu país como parte de uma nova alternativa internacional, unido a outros países BRICs, para conter, onde seja possível, a agressão pelos EUA. Para Putin, conter a agressão norte-americana é necessário, para chegarmos à estabilidade mundial. Adenauer e Macmillan teriam compreendido exatamente isso, imediatamente. Mas líderes europeus e norte-americanos contemporâneos já não entendem nada. Embriagados pela dominação que exerceram durante os últimos 20 anos, ainda não lhes caiu a ficha, de que a ordem global já está em mudança e mudando rapidamente.
O modo como os EUA reajam à nova realidade é elemento vital do processo. Em dinâmica própria das histórias em quadrinho, o discurso de Washington só sabe focar a Agência de Segurança Nacional, correria de espiões para lá e para cá, governos 'sombra', um patético, desentendido 4º estado, aquela gigantesca força militar jamais usada produtivamente para nada e ninguém, e um crescente, aterrorizante nacionalismo.
Tanta imbecilidade juvenil-adolescente não vive sem um bandidão para chamar de seu. Em dez anos, o bandidão oficial dos EUA já passou de Bin Laden para Saddam; das batatas fritas na cafeteria do Congresso, para a russofobia. Se a elite norte-americana mantiver esse mesmo comportamento, a transição para um mundo multipolar pode não ser pacífica. Isso, sim, se deve temer, medo real.
Port.pravda.ru
DeOlhOnafigueira
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