Israel e militantes palestinos na Faixa de Gaza
chegaram a um acordo de cessar-fogo, interrompendo o conflito mais
violento na região nos últimos anos.
Após difíceis negociações, ambos os lados
concordaram com um acordo mediado pelo Egito. Este não é o primeiro
cessar-fogo desde que Israel iniciou sua ofensiva em Gaza em 8 de julho -
diversos acordos foram acertados, mas tiveram curta duração.
No entanto, este cessar-fogo não tem
prazo para terminar. Após 50 dias de conflito, a percepção de analistas
é de que há agora mais vontade - e cansaço - em ambos os lados para
colocar um fim definitivo à recente sequência de ataques.
Divergências sobre o que será discutido a seguir ameaçam, porém, reascender a tensão entre os dois lados.
Veja outros pontos sobre a história do conflito em Gaza:
O acordo reúne elementos de propostas que há
semanas estavam sendo discutidas. Há, no entanto, diferenças nos
comunicados divulgados por ambos os lados.
Segundo representantes de facções palestinas,
restrições à travessia de pessoas de Gaza para Israel seriam aliviadas, e
ajuda humanitária e materiais para reconstrução receberiam permissão
para entrar no território. Limites à pesca também seriam relaxados.
Discussões sobre outras questões, como a
exigência do Hamas para a construção de um terminal aéreo e um marítimo
seriam adiadas por um mês, segundo eles.
Mas uma autoridade israelense disse à BBC que,
apesar de Israel ter aceitado a proposta mediada pelo Egito, o acordo
não inclui a questão de porto, aeroporto ou a libertação de prisioneiros
palestinos mantidos por Israel.
A autoridade disse que ambos os lados discutiriam suas exigências por meio de mediação egípcia em um mês.
A fórmula do cessar-fogo é similar ao acordo que
encerrou o conflito entre Israel e Hamas em 2012 - mas, após um período
de relativa tranquilidade com a trégua, a violência teve reinício.
Qual a raiz do problema?
A Faixa de Gaza, estreito território entre
Israel e o Egito, tem sido um ponto de violência frequente no conflito
entre israelenses e palestinos.
Israel ocupou Gaza na Guerra dos Seis Dias de
1967 e retirou suas tropas e colonos unilateralmente em 2005. Israel
considerou isso o fim da ocupação, mas continua a controlar a maior
parte das fronteiras de Gaza, litoral e espaço aéreo. O Egito controla a
fronteira sul de Gaza.
Israel restringe o movimento de pessoas e
mercadorias de e para Gaza, medidas que alega serem essenciais para sua
própria segurança.
No entanto, palestinos em Gaza se sentem
confinados e sofrem graves dificuldades sócio-econômicas. O movimento
islâmico Hamas, que controla Gaza, e outros grupos militantes dizem que
as restrições são intoleráveis.
A Constituição do Hamas defende a destruição de
Israel mas, nos últimos anos, o grupo tem afirmado considerar um acordo
de longo prazo com Israel. O movimento cita a ocupação israelense da
Cisjordânia e de Jerusalém Oriental como razões de seus ataques contra
Israel antes e depois de 2005.
O Hamas diz também se defender de ataques aéreos israelenses, incursões e outras ofensivas militares.
O que deu início à última onda de violência?
A tensão entre palestinos e israelenses aumentou
após o sequestro e morte de três adolescentes israelenses em junho, que
Israel culpou o Hamas e levou a uma repressão contra o grupo na
Cisjordânia.
O Hamas havia negado envolvimento no caso mas,
depois, o líder político do grupo, Khaled Meshaal, confirmou a
participação de seus membros.
A situação piorou ainda mais após o que foi
visto como um ato de vingança - a morte de um adolescente palestino em
Jerusalém em 2 de julho. Seis suspeitos judeus foram presos.
No dia 7 de julho, o Hamas assumiu
responsabilidade por disparar foguetes contra o território israelense
pela primeira vez em 20 meses, após uma série de ataques aéreos de
Israel que resultaram na morte de diversos membros do braço armado do
grupo.
No dia seguinte, Israel lançou a operação
militar contra Gaza com o alegado objetivo de interromper os ataques de
foguetes e destruir a infraestrutura do Hamas.
Desde então, mais de mil ataques aéreos
israelenses foram realizados, e milhares de foguetes foram lançados de
Gaza contra Israel.
Analistas destacam o fato do Hamas ter se
tornado isolado em Gaza após perder o apoio da Síria, uma importante
aliada que enfrenta uma guerra civil, e, em menor grau, do Irã.
O grupo também foi enfraquecido diante da
repressão de autoridades egípcias, que têm tentado acabar com túneis
usados por contrabandistas palestinos vindos de Gaza.
Segundo especialistas, atacar Israel pode ter
sido uma saída para o Hamas tentar aumentar sua popularidade e obter
concessões em discussões.
Por que foi tão difícil que os lados concordassem com um cessar-fogo?
O primeiro plano foi proposto pelo Egito após
uma semana de conflito - Israel aceitou a trégua, mas o Hamas disse não
ter sido consultado e, depois, rejeitou-o, classificando-o como
"rendição".
Outras tentativas de interromper o conflito
ocorreram nas semanas seguintes, inclusive a adoção de pausas por razões
humanitárias. Pequenas tréguas foram alcançadas, mas nenhuma por longa
duração. Israel disse ter aceitado diversas propostas de trégua mas
reiniciou seus ataques após o lançamento de foguetes por militantes.
O Hamas disse que aceitaria um cessar-fogo de
longo prazo com o fim do bloqueio à Gaza - algo que Israel insistiu que
não consideraria sem a desmilitarização do território.
Enquanto isso, Israel disse que não negociaria
se estivesse sob ataque, e retirou-se de conversas para um acordo no
Egito quando o lançamento de foguetes foi reiniciado.
Quais são os objetivos dos dois lados?
O principal objetivo declarado de Israel foi o
de interromper o lançamento de foguetes por militantes de Gaza contra
seu território e restabelecer a segurança e tranquilidade para
israelenses.
Parte de sua operação envolveu uma incursão
terrestre para destruir túneis do Hamas, que têm sido usados para lançar
ataques contra Israel.
Israel disse que destruiu dezenas destes túneis,
mas reconhece que muitos podem não ter sido detectados. Israel também
deixou claro que deseja que Gaza seja desmilitarizada.
Os líderes políticos do Hamas disseram que eles somente interromperiam os ataques com o fim do bloqueio à Gaza.
O braço armado do grupo exigiu o fim da
"agressão" israelense na Cisjordânia, Jerusalém e Gaza e a libertação de
prisioneiros que foram soltos em troca do soldado Gilad Shalit em 2011
mas que foram presos novamente.
Como os civis enfrentaram o conflito?
Gaza é um pequeno território com uma grande
população, e autoridades palestinas dizem que muitas pessoas foram
vítimas de ataques aéreos em áreas residenciais.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud
Abbas, acusou de Israel de "genocídio" e grupos de direitos humanos
alertaram Israel que ataques aéreos em áreas densamente populosas ou
ataques diretos contra residências de civis podem violar leis
internacionais.
Israel diz que as casas que atingiu pertenciam a
importantes militantes e serviam como centros de comando onde ataques
de foquetes eram coordenados. O governo diz que militantes
deliberadamente dispararam foguetes de áreas civis e estocaram armas em
locais como casas, escolas e hospitais - uma acusação negada pelo Hamas.
Israel também alegou que os centenas de foguetes disparados por militantes ameaçaram diretamente seus moradores.
Foguetes de longo alcance foram lançados contra Tel Aviv e Jerusalém e, também, áreas mais ao norte.
Grupos de direitos humanos dizem que o lançamento indiscriminado de foguetes põe civis sob risco e constitui um crime de guerra.
Ambos os lados travaram guerras antes. Como elas terminaram?
Este último conflito durou muito mais do que as guerras anteriores entre Israel e militantes em Gaza em 2008-09 e 2012.
Israel lançou uma ofensiva terrestre em dezembro
de 2008 em resposta ao lançamento de foguetes. O conflito terminou
quando Israel declarou um cessar-fogo unilateral 22 dias depois, dizendo
que seus objetivos haviam sido "mais do que totalmente atingidos".
Cerca de 1,3 mil palestinos morreram, a maioria
civis. Treze israelenses também morreram, incluindo quatro soldados em
um incidente de fogo-amigo. A infraestrutura civil de Gaza foi
amplamente destruída.
Quatro anos depois, Israel lançou uma outra
campanha, no qual declarou ter como objetivo interromper o lançamento de
foguetes e atingir a capacidade do Hamas de lançar ataques.
Oito dias depois do início da operação, o Egito
mediou um cessar-fogo que incluiu a promessa de ambos os lados de
suspender os ataques. Ao menos 167 palestinos e seis israelenses
morreram.
BBC
DeOlhOnafigueira
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