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segunda-feira, 11 de março de 2013

Isto pode. Isto não pode.

Antes de me converter, na adolescência, achava muito engraçado o comportamento dos crentes. Cheios de não me toques e restrições, eram um povo à parte. Depois de minha conversão, aos 17 anos, continuei achando engraçado o comportamento de alguns deles. Ainda cheios de maneirismos, pretensamente espirituais, dizendo que era da vontade de Deus tal e tal comportamento.

Acho que, pelo fato de não ter pedigree, ou seja, não ser de família evangélica, sempre me encafifei com isso. Por exemplo: por que, em algumas igrejas, ter televisão era pecado mortal? E por que, nestas mesmas igrejas, hoje é possível até mesmo pastor ter blog e programa de TV? Mudou Deus, mudou a Bíblia ou mudaram os tempos?

Este é o grande problema em se sacralizar aquilo que deve ser entendido apenas como o jeito de uma época de se entender as coisas. Ou seja, a cultura, este óculos para se enxergar a realidade, é apenas uma construção humana, pessoal, falha.

Mas é com base na cultura, e não nas Escrituras, que muitos pautam suas vidas. Onde está na Bíblia, por exemplo, que crente deve apenas ouvir música dita evangélica? Onde está escrito que devo trocar, de bom grado, The long and winding road, dos Beatles, por algum ponto-de-macumba gospel? É óbvio que ouço música evangélica, mas apenas a de boa qualidade. Mantra vazio e mercantilista eu dispenso.

Onde está na Bíblia que cristão deve ser sempre sisudo, circunspecto, nunca podendo rir ou brincar? Aliás, este é um ponto interessante, pois sempre que se questiona algum bezerro de ouro do mundim góspi, logo aparecem suas catifundas dizendo que prestaremos contas a Deus por mexermos com gente untada, ops, ungida. Ora essa, este é o mais novo fenômeno gospel: a idolatria por gente viva, e bem viva, por sinal! Ao Deus verdadeiro toda a glória, honra e louvor; mas para esses hômi di delz, todo escracho e esculacho ainda é pouco!

Onde está na Bíblia que todo pastor deve ter cara de pastor? Aliás, gostaria de saber como é cara de pastor. Cada vez que alguém diz que não me pareço com um pastor, só respondo graças a Deus!, pois esta imagem pré-formatada na cabeça de muitos não quero pra mim. Aliás, as pessoas confundem pastor com executivo, empresário, coisas do gênero. Acham que o pastor só é fiel a Deus se fizer a igreja bombar. Substituíram a ação do Espírito pelo marketing e por estratégias gerenciais. Parafraseando o Sal 23, muita gente diz Chiavenato é o meu pastor...


Onde está na Bíblia que o mundo deveria nos aplaudir? Onde está na Bíblia que o sinal da aprovação de Deus é uma apresentação no programa do Luciano Huck, vender bastante CD e DVD, ficar rico e famoso e distribuir autógrafos para a patuléia? Como fica Jo 15.19 nesta história?

Enfim, a cultura é uma coisa passageira. Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores, seria execrado hoje em dia, por causa do seu tabagismo. O mesmo poderia ser dito de Calvino e seu vinho ou de Lutero e sua cerveja. Ao se absolutizar aquilo que é relativo e passageiro, corremos o risco de relativizarmos Aquele que é o Absoluto. Como, aliás, tem acontecido muito ultimamente. 


Por Digão em Genizah
DeOlhOnafigueira

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