Ativista segura bandeira palestina perto de uma tenda recém montada na Cisjordânia |
Em vista da paralisação do processo de paz entre
israelenses e palestinos e da crescente colonização dos territórios
ocupados, a solução baseada em dois Estados torna-se mais distante e a
discussão sobre a possibilidade de que os dois povos vivam juntos em um
Estado binacional faz-se mais frequente.
Desde a assinatura do acordo de Oslo, pelo lider
palestino Yasser Arafat e pelo primeiro-ministro de Israel Itzhak Rabin,
em 1993, o número de colonos israelenses que vivem na Cisjordânia quase
quadriplicou. De 100 mil colonos naquela época, a população israelense
nos territórios ocupados cresceu para cerca de 380 mil.
Isso sem mencionar a população israelense que vive na
parte oriental de Jerusalém, ocupada durante a guerra de 1967, de 200
mil pessoas. Em quase 20 anos do chamado "processo de paz", a solução de
dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos, na qual se
baseava o acordo de Oslo, não obteve avanços significativos.
Nessas circunstâncias, aumenta o debate sobre as
perspectivas dos dois povos. Um conflito sem fim? A solução de dois
Estados ainda é possível? Nas condições atuais, a criação de um Estado
palestino ao lado de Israel realmente resolverá o conflito? Os dois
povos podem viver juntos pacificamente em um Estado só?
Para o
cientista político da Universidade Hebraica de Jerusalém Bashir Bashir,
com a colonização dos territórios ocupados, "Israel criou uma realidade
binacional na qual os dois povos estão entrelaçados de maneira que a
separação torna-se cada vez mais impossível".
O assentamento israelense de Susya, construido em terras da aldeia palestina |
"Devemos abandonar os modelos antigos e pensar em soluções binacionais para uma realidade binacional", disse Bashir. "A geografia, a economia e o meio ambiente dos dois povos estão entrelaçados", afirmou.
Há cerca de 200 assentamentos israelenses na
Cisjordânia, que pontilham todo o território. "Ainda há um consenso
palestino sobre o principio de dois Estados na fronteira anterior à
guerra de 1967", afirma Bashir, "mas a questão é de que tipo de Estado
se trata, se será independente, viável, sustentável e contíguo".
"Nesse caso acredito que apenas uma minoria dos
palestinos irá se opor", disse o cientista politico. "Porém, na minha
opinião, a questão das estruturas institucionais é menos importante do
que os principios, a solução deve responder às exigências minimas do
movimento nacional palestino, sendo dois Estados, um Estado binacional e
democrático, uma confederação ou federação", disse Bashir.
Guerra civil contínua
Já para o veterano pacifista israelense, Uri Avnery, a solução de dois Estados "não é a melhor, é a única possivel". Para Avnery, um Estado binacional "levará a uma situação de apartheid e de guerra civil contínua".
Já para o veterano pacifista israelense, Uri Avnery, a solução de dois Estados "não é a melhor, é a única possivel". Para Avnery, um Estado binacional "levará a uma situação de apartheid e de guerra civil contínua".
Acampamento na área entre Jerusalém e o acampamento israelense na Cisjordânia |
"O que o governo colocou, o governo pode retirar", disse Avnery,
em referência aos assentamentos, "todos os problemas criados pelo
homem, podem ser resolvidos pelo homem". "Ariel Sharon, o maior
promotor da colonização, foi quem retirou os assentamentos da Faixa de
Gaza", disse.
"Só quando os palestinos tiverem os mesmos direitos que
os israelenses, independência e um Estado próprio, será possivel fazer a
paz, e os dois povos poderão conversar em termos de igualdade, apesar
da grande diferença na força militar e economica de ambos".
"Os dois povos são muito diferentes em todos os
aspectos, linguas diferentes, mentalidades diferentes, um Estado só não
poderá ser bem sucedido, principalmente com todo o ressentimento que se
acumulou nesses 130 anos de conflito", acrescentou Avnery. "Nessas
circunstâncias, alguém pode imaginar israelenses e palestinos servindo
no mesmo Exército, na mesma polícia, pagando os mesmos impostos?",
perguntou.
Caráter judaico de Israel
A ideia de um Estado binacional, que significaria o fim do caráter judaico do Estado de Israel, preocupa politicos de grande parte do mapa politico do país. O presidente Shimon Peres declarou que "quem não quer a solução de dois Estados deve propor uma alternativa".
A ideia de um Estado binacional, que significaria o fim do caráter judaico do Estado de Israel, preocupa politicos de grande parte do mapa politico do país. O presidente Shimon Peres declarou que "quem não quer a solução de dois Estados deve propor uma alternativa".
"Devemos concluir um acordo de paz com os palestinos o
quanto antes, senão a própria realidade ditará a solução. Um Estado
binacional coloca em risco o sionismo e o caráter judaico e democrático
do Estado de Israel. Gostaria que pudessemos viver juntos como irmãos,
mas em um país tão pequeno, com tal profundidade de ódio, desconfiança e
diferenças culturais, isso não é possivel", afirmou o presidente.
Dan Meridor, ministro para assuntos de Inteligência e
politico da ala moderada do partido governista Likud, também tem receio
que a realidade atual leve a um Estado binacional.
Um dos fatores que mais preocupam Meridor é o quase
empate demográfico entre os dois povos. Em toda a área de Israel e
Palestina vivem hoje 6 milhões de judeus e 5.650.000 palestinos
(incluindo os 1.650.000 cidadãos árabes de Israel, de origem palestina).
"A construção dos assentamentos fora dos blocos do
consenso põe em risco o projeto sionista e poderá levar à criação de um
Estado binacional entre o rio (Jordão) e o mar (Mediterrâneo)", afirmou
Meridor, em referência aos assentamentos isolados que ficam nas áreas
mais profundas da Cisjordânia e longe da fronteira com Israel.
Meridor, que apoia a retirada dos assentamentos isolados
e a criação de um Estado palestino em grande parte da Cisjordânia,
perdeu nas eleições prévias do Likud por suas posições consideradas
moderadas, e não fará parte do proximo governo de Israel.
Próxima coalizão governamental
Um dos principais parceiros no proximo governo, que se encontra em formação, é o politico de extrema-direita Naftali Benet, lider do partido Habait Hayehudi (Lar Judaico). Benet é contra a solução de dois Estados e apoia a anexação a Israel de 60% da Cisjordânia. Para os palestinos, ele propõe "autonomia" nas áreas restantes e é contra a retirada de um assentamento sequer.
Um dos principais parceiros no proximo governo, que se encontra em formação, é o politico de extrema-direita Naftali Benet, lider do partido Habait Hayehudi (Lar Judaico). Benet é contra a solução de dois Estados e apoia a anexação a Israel de 60% da Cisjordânia. Para os palestinos, ele propõe "autonomia" nas áreas restantes e é contra a retirada de um assentamento sequer.
Grande parte do partido Likud, liderado pelo primeiro
ministro Binyamin Netanyahu é da mesma posição. "Criou-se uma realidade
binacional, porém nas circunstâncias atuais um povo domina e segrega o
outro", disse Bashir Bashir. "Temos que encontrar uma nova gramática
para abordar o conflito e aplicar um raciocinio binacional para essa
nova realidade", afirmou.
"É preciso tranformar essa realidade de dominio colonial
em uma realidade de cooperação entre judeus e árabes, que se baseie nos
principios de igualdade, reciprocidade e respeito mútuo, e que possa
levar a uma reconciliação histórica entre os dois povos", disse o
cientista politico. "Continuar ignorando a realidade binacional que se
criou só contribui para o agravamento do conflito e não para a solução",
concluiu.
Terra
DeOlhOnafigueira
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