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sábado, 9 de março de 2013

Cresce debate em Israel sobre criação de Estado binacional com Palestina

Especialistas acreditam que, com os quase 200 assentamentos israelenses na Cisjordânia, a separação torna-se cada vez mais impossível

Ativista segura bandeira palestina perto de uma tenda recém montada no vilarejo de Beit Iksa, na Cisjordânia, entre Ramallah e Jerusalém Foto: Mohamad Torokman / Reuters
Ativista segura bandeira palestina perto de uma tenda recém montada na Cisjordânia
Em vista da paralisação do processo de paz entre israelenses e palestinos e da crescente colonização dos territórios ocupados, a solução baseada em dois Estados torna-se mais distante e a discussão sobre a possibilidade de que os dois povos vivam juntos em um Estado binacional faz-se mais frequente. 

Desde a assinatura do acordo de Oslo, pelo lider palestino Yasser Arafat e pelo primeiro-ministro de Israel Itzhak Rabin, em 1993, o número de colonos israelenses que vivem na Cisjordânia quase quadriplicou. De 100 mil colonos naquela época, a população israelense nos territórios ocupados cresceu para cerca de 380 mil.

Isso sem mencionar a população israelense que vive na parte oriental de Jerusalém, ocupada durante a guerra de 1967, de 200 mil pessoas. Em quase 20 anos do chamado "processo de paz", a solução de dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos, na qual se baseava o acordo de Oslo, não obteve avanços significativos.

Nessas circunstâncias, aumenta o debate sobre as perspectivas dos dois povos. Um conflito sem fim? A solução de dois Estados ainda é possível? Nas condições atuais, a criação de um Estado palestino ao lado de Israel realmente resolverá o conflito? Os dois povos podem viver juntos pacificamente em um Estado só?

Realidade binacional
Para o cientista político da Universidade Hebraica de Jerusalém Bashir Bashir, com a colonização dos territórios ocupados, "Israel criou uma realidade binacional na qual os dois povos estão entrelaçados de maneira que a separação torna-se cada vez mais impossível".

O assentamento israelense de Susya, construido em terras da aldeia palestina Foto: Guy Butavia /  Divulgação
O assentamento israelense de Susya, construido em terras da aldeia palestina
"Devemos abandonar os modelos antigos e pensar em soluções binacionais para uma realidade binacional", disse Bashir. "A geografia, a economia e o meio ambiente dos dois povos estão entrelaçados", afirmou.

Há cerca de 200 assentamentos israelenses na Cisjordânia, que pontilham todo o território. "Ainda há um consenso palestino sobre o principio de dois Estados na fronteira anterior à guerra de 1967", afirma Bashir, "mas a questão é de que tipo de Estado se trata, se será independente, viável, sustentável e contíguo".

"Nesse caso acredito que apenas uma minoria dos palestinos irá se opor", disse o cientista politico. "Porém, na minha opinião, a questão das estruturas institucionais é menos importante do que os principios, a solução deve responder às exigências minimas do movimento nacional palestino, sendo dois Estados, um Estado binacional e democrático, uma confederação ou federação", disse Bashir.

Guerra civil contínua
Já para o veterano pacifista israelense, Uri Avnery, a solução de dois Estados "não é a melhor, é a única possivel". Para Avnery, um Estado binacional "levará a uma situação de apartheid e de guerra civil contínua".

Acampamento em uma área entre Jerusalém e o acampamento israelense de Maale Adumim, na Cisjordânia Foto: AFP
Acampamento na área entre Jerusalém e o acampamento israelense na Cisjordânia
"O que o governo colocou, o governo pode retirar", disse Avnery, em referência aos assentamentos, "todos os problemas criados pelo homem,  podem ser resolvidos pelo homem". "Ariel Sharon, o maior promotor da colonização, foi quem retirou os assentamentos da Faixa de Gaza", disse.

"Só quando os palestinos tiverem os mesmos direitos que os israelenses, independência e um Estado próprio, será possivel fazer a paz, e os dois povos poderão conversar em termos de igualdade, apesar da grande diferença na força militar e economica de ambos". 

"Os dois povos são muito diferentes em todos os aspectos, linguas diferentes, mentalidades diferentes, um Estado só não poderá ser bem sucedido, principalmente com todo o ressentimento que se acumulou nesses 130 anos de conflito", acrescentou Avnery. "Nessas circunstâncias, alguém pode imaginar israelenses e palestinos servindo no mesmo Exército, na mesma polícia, pagando os mesmos impostos?", perguntou.

Caráter judaico de Israel
A ideia de um Estado binacional, que significaria o fim do caráter judaico do Estado de Israel, preocupa politicos de grande parte do mapa politico do país. O presidente Shimon Peres declarou que "quem não quer a solução de dois Estados deve propor uma alternativa".

"Devemos concluir um acordo de paz com os palestinos o quanto antes, senão a própria realidade ditará a solução. Um Estado binacional coloca em risco o sionismo e o caráter judaico e democrático do Estado de Israel. Gostaria que pudessemos viver juntos como irmãos, mas em um país tão pequeno, com tal profundidade de ódio, desconfiança e diferenças culturais, isso não é possivel", afirmou o presidente.

Dan Meridor, ministro para assuntos de Inteligência e politico da ala moderada do partido governista Likud, também tem receio que a realidade atual leve a um Estado binacional.

Um dos fatores que mais preocupam Meridor é o quase empate demográfico entre os dois povos. Em toda a área de Israel e Palestina vivem hoje 6 milhões de judeus e 5.650.000 palestinos (incluindo os 1.650.000 cidadãos árabes de Israel, de origem palestina).

"A construção dos assentamentos fora dos blocos do consenso põe em risco o projeto sionista e poderá levar à criação de um Estado binacional entre o rio (Jordão) e o mar (Mediterrâneo)", afirmou Meridor, em referência aos assentamentos isolados que ficam nas áreas mais profundas da Cisjordânia e longe da fronteira com Israel.

Meridor, que apoia a retirada dos assentamentos isolados e a criação de um Estado palestino em grande parte da Cisjordânia, perdeu nas eleições prévias do Likud por suas posições consideradas moderadas, e não fará parte do proximo governo de Israel. 

Próxima coalizão governamental
Um dos principais parceiros no proximo governo, que se encontra em formação, é o politico de extrema-direita Naftali Benet, lider do partido Habait Hayehudi (Lar Judaico). Benet é contra a solução de dois Estados e apoia a anexação a Israel de 60% da Cisjordânia. Para os palestinos, ele propõe "autonomia" nas áreas restantes e é contra a retirada de um assentamento sequer.
Grande parte do partido Likud, liderado pelo primeiro ministro Binyamin Netanyahu é da mesma posição. "Criou-se uma realidade binacional, porém nas circunstâncias atuais um povo domina e segrega o outro", disse Bashir Bashir. "Temos que encontrar uma nova gramática para abordar o conflito e aplicar um raciocinio binacional para essa nova realidade", afirmou.

"É preciso tranformar essa realidade de dominio colonial em uma realidade de cooperação entre judeus e árabes, que se baseie nos principios de igualdade, reciprocidade e respeito mútuo, e que possa levar a uma reconciliação histórica entre os dois povos", disse o cientista politico. "Continuar ignorando a realidade binacional que se criou só contribui para o agravamento do conflito e não para a solução", concluiu.

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