Não há razões para esperar a melhoria da situação no Oriente Médio neste
ano. Antes pelo contrário, em uma perspectiva de médio prazo, ela só
vai se agravar.
O ano 2012 terminou sem uma grande guerra no Oriente Médio. Para este ano, a previsão é de que a tensão na região continue aumentando, envolvendo cada vez mais países da África, Europa e Ásia Central nos conflitos locais e se transformando paulatinamente em um confronto entre diferentes grupos de países.
Trata-se de diferentes grupos islâmicos apoiados por diferentes forças externas. Os principais são o Catar e a Arábia Saudita wahhabitas de um lado e o Irã xiita do outro. Segundo a imprensa árabe, os sunitas são apoiados pelo Ocidente e os xiitas, pela Rússia. Na realidade, a situação é muito mais complicada.
O islamismo vem se difundindo
O Catar e a Arábia Saudita perseguem o mesmo objetivo de acabar com o secularismo e islamizar a vida política no mundo árabe, apostando, porém, em forças diferentes. Enquanto o Catar se apoia principalmente na Irmandade Muçulmana, os sauditas apostam nos salafistas.
No entanto, as duas correntes têm interesses diferentes. A Irmandade e seus aliados tiraram os principais dividendos políticos da Primavera Árabe e chegaram ao poder na Tunísia e no Egito, enquanto os salafistas ficaram na periferia política e financeira, embora tivessem se legalizado como força política.
De modo geral, podemos dizer que a expansão do Islã no mundo, bem como a luta dos islamistas sírios contra Assad, são organizadas pelo Catar e pela Arábia Saudita. Teerã continua apoiando o governo de Damasco sem intervir diretamente no conflito militar no país.
No Conselho de Segurança da ONU, Rússia e China se opõem à aprovação de uma resolução que permita uma intervenção militar externa na Síria para derrubar o governo de Assad.
A julgar pela presença da Marinha russa nas águas costeiras da Síria, a Rússia não tem a intenção de rever sua política. Se o governo de Damasco não cair antes que um confronto entre o Irã e a Arábia Saudita comece, terá suas chances de sobreviver aumentadas.
Tática dos países do Golfo
Se existe a possibilidade de o Ocidente chegar a acordo com os governos do Golfo, no caso dos grupos islâmicos revolucionários desunidos, nenhum acordo será possível. O Ocidente pode dialogar com eles por intermédio do Catar e da Arábia Saudita mas não pode esperar que eles aceitem cooperar com ele ou assumir uma posição de neutralidade.
O atentado terrorista de 11 de setembro em Nova York e Washington e os acontecimentos do outono de 2012 mostram que, assim que os islamistas alcançam seus objetivos com a ajuda do Ocidente, eles se voltam contra seus patrocinadores ocidentais.
As monarquias do Golfo preferem redirecionar a energia dos terroristas contra seus concorrentes ocidentais para evitar que estes cheguem ao poder em seus países.
Cientes disso, os governos dos EUA, França e Reino Unido fazem vista grossa às manobras das monarquias do Golfo, segundo mostraram os acontecimentos de 2012.
As recentes nomeações para as pastas de secretário de Defesa e secretário de Estado levam a crer que a política dos EUA para o Oriente Médio, que prevê, entre outras coisas, um diálogo com os islamistas, não vai mudar.
Os islamistas se revigoram na Rússia
A China, como um dos mercados importantes para recursos energéticos árabes, por um lado, e um importantíssimo parceiro comercial do Ocidente, por outro, pode se permitir tomar um norte por seus próprios interesses no relacionamento com o Irã sem qualquer prejuízo para suas relações com os países considerados inimigos da República Islâmica.
Já a Rússia, hostilizada pelos países do Golfo, não tem esse privilégio. Uma vez que as monarquias do Golfo estão seguras de que a Primavera Árabe marca passo na Síria devido à Rússia, neste ano, podemos esperar a intensificação das atividades islamistas no país e nas ex-repúblicas soviéticas.
Como ponta-de-lança da Primavera Centro-Asiática podem ser usados o Quirguistão (onde o Catar e Arábia Saudita têm embaixadas desde 2012) e o Tadjiquistão, enquanto os principais alvos serão o Uzbequistão e o Cazaquistão.
A retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2014 dará a vitória aos talibãs. Como consequência, os jihadistas estrangeiros, entre os quais alguns da Rússia e de outras ex-repúblicas soviéticas, terão de se retirar do Afeganistão.
À espera de uma guerra
O ano de 2013 será crucial para o Irã. O surgimento de uma bomba atômica no país está quase garantido. A situação na região depende muito da escalada dos conflitos do Irã com as monarquias do Golfo e Israel.
As eleições presidenciais na República Islâmica no início do verão de 2013 irão indicar a direção do ataque principal pois o país não poderá combater em todas as frentes ao mesmo tempo. Em relação a Israel, o Irã irá praticar ataques com foguetes a partir do sul do Líbano e de Gaza.
A situação no Golfo não é tão simples. O Bahrein tem medo do Irã pois este apoia as manifestações xiitas no país. O Omã ibadita se mantém neutro. Os Emirados Árabes Unidos brigam com o Irã pelas ilhas por ele ocupadas e não são favoráveis aos islamistas sunitas. Prova disso são as prisões de militantes da Irmandade Muçulmana nos Emirados Árabes Unidos, apesar dos protestos do Egito.
O Egito, apesar de uma rápida islamização de sua vida política ou por causa disso, continua a ser um país-chave do mundo árabe. As declarações feitas por Mohamed Mursi em 2010 e que apresentam os judeus como "descendentes de porcos e macacos" confirmam a hipótese de que, após a ocorrência de uma crise irreversível, principalmente de origem econômica, no Egito, uma guerra com Israel pode ser a única saída aceitável para o líder egípcio.
Israel, por seu turno, está se preparando para uma guerra contra o Egito, assim como para uma guerra contra o Irã, para a terceira intifada e para confrontos com os jihadistas na fronteira com a Síria, Líbano e Jordânia.
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