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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Situação no Oriente Médio continuará se agravando, diz especialista

Não há razões para esperar a melhoria da situação no Oriente Médio neste ano. Antes pelo contrário, em uma perspectiva de médio prazo, ela só vai se agravar. 

 Situação no Oriente Médio continuará se agravando, diz especialista

O ano 2012 terminou sem uma grande guerra no Oriente Médio. Para este ano, a previsão é de que a tensão na região continue aumentando, envolvendo cada vez mais países da África, Europa e Ásia Central nos conflitos locais e se transformando paulatinamente em um confronto entre diferentes grupos de países.

Trata-se de diferentes grupos islâmicos apoiados por diferentes forças externas. Os principais são o Catar e a Arábia Saudita wahhabitas de um lado e o Irã xiita do outro. Segundo a imprensa árabe, os sunitas são apoiados pelo Ocidente e os xiitas, pela Rússia. Na realidade, a situação é muito mais complicada.


O islamismo vem se difundindo
O Catar e a Arábia Saudita perseguem o mesmo objetivo de acabar com o secularismo e islamizar a vida política no mundo árabe, apostando, porém, em forças diferentes. Enquanto o Catar se apoia principalmente na Irmandade Muçulmana, os sauditas apostam nos salafistas. 


No entanto, as duas correntes têm interesses diferentes. A Irmandade e seus aliados tiraram os principais dividendos políticos da Primavera Árabe e chegaram ao poder na Tunísia e no Egito, enquanto os salafistas ficaram na periferia política e financeira, embora tivessem se legalizado como força política.

De modo geral, podemos dizer que a expansão do Islã no mundo, bem como a luta dos islamistas sírios contra Assad, são organizadas pelo Catar e pela Arábia Saudita. Teerã continua apoiando o governo de Damasco sem intervir diretamente no conflito militar no país.

No Conselho de Segurança da ONU, Rússia e China se opõem à aprovação de uma resolução que permita uma intervenção militar externa na Síria para derrubar o governo de Assad.

A julgar pela presença da Marinha russa nas águas costeiras da Síria, a Rússia não tem a intenção de rever sua política. Se o governo de Damasco não cair antes que um confronto entre o Irã e a Arábia Saudita comece, terá suas chances de sobreviver aumentadas.

Tática dos países do Golfo
Se existe a possibilidade de o Ocidente chegar a acordo com os governos do Golfo, no caso dos grupos islâmicos revolucionários desunidos, nenhum acordo será possível. O Ocidente pode dialogar com eles por intermédio do Catar e da Arábia Saudita mas não pode esperar que eles aceitem cooperar com ele ou assumir uma posição de neutralidade.

O atentado terrorista de 11 de setembro em Nova York e Washington e os acontecimentos do outono de 2012 mostram que, assim que os islamistas alcançam seus objetivos com a ajuda do Ocidente, eles se voltam contra seus patrocinadores ocidentais.

As monarquias do Golfo preferem redirecionar a energia dos terroristas contra seus concorrentes ocidentais para evitar que estes cheguem ao poder em seus países.

Cientes disso, os governos dos EUA, França e Reino Unido fazem vista grossa às manobras das monarquias do Golfo, segundo mostraram os acontecimentos de 2012.

As recentes nomeações para as pastas de secretário de Defesa e secretário de Estado levam a crer que a política dos EUA para o Oriente Médio, que prevê, entre outras coisas, um diálogo com os islamistas, não vai mudar.

Os islamistas se revigoram na Rússia
A China, como um dos mercados importantes para recursos energéticos árabes, por um lado, e um importantíssimo parceiro comercial do Ocidente, por outro, pode se permitir tomar um norte por seus próprios interesses no relacionamento com o Irã sem qualquer prejuízo para suas relações com os países considerados inimigos da República Islâmica.

Já a Rússia, hostilizada pelos países do Golfo, não tem esse privilégio. Uma vez que as monarquias do Golfo estão seguras de que a Primavera Árabe marca passo na Síria devido à Rússia, neste ano, podemos esperar a intensificação das atividades islamistas no país e nas ex-repúblicas soviéticas.

Como ponta-de-lança da Primavera Centro-Asiática podem ser usados o Quirguistão (onde o Catar e Arábia Saudita têm embaixadas desde 2012) e o Tadjiquistão, enquanto os principais alvos serão o Uzbequistão e o Cazaquistão.

A retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2014 dará a vitória aos talibãs. Como consequência, os jihadistas estrangeiros, entre os quais alguns da Rússia e de outras ex-repúblicas soviéticas, terão de se retirar do Afeganistão.

À espera de uma guerra
O ano de 2013 será crucial para o Irã. O surgimento de uma bomba atômica no país está quase garantido. A situação na região depende muito da escalada dos conflitos do Irã com as monarquias do Golfo e Israel.

As eleições presidenciais na República Islâmica no início do verão de 2013 irão indicar a direção do ataque principal pois o país não poderá combater em todas as frentes ao mesmo tempo. Em relação a Israel, o Irã irá praticar ataques com foguetes a partir do sul do Líbano e de Gaza.

A situação no Golfo não é tão simples. O Bahrein tem medo do Irã pois este apoia as manifestações xiitas no país. O Omã ibadita se mantém neutro. Os Emirados Árabes Unidos brigam com o Irã pelas ilhas por ele ocupadas e não são favoráveis aos islamistas sunitas. Prova disso são as prisões de militantes da Irmandade Muçulmana nos Emirados Árabes Unidos, apesar dos protestos do Egito.

O Egito, apesar de uma rápida islamização de sua vida política ou por causa disso, continua a ser um país-chave do mundo árabe. As declarações feitas por Mohamed Mursi em 2010 e que apresentam os judeus como "descendentes de porcos e macacos" confirmam a hipótese de que, após a ocorrência de uma crise irreversível, principalmente de origem econômica, no Egito, uma guerra com Israel pode ser a única saída aceitável para o líder egípcio.

Israel, por seu turno, está se preparando para uma guerra contra o Egito, assim como para uma guerra contra o Irã, para a terceira intifada e para confrontos com os jihadistas na fronteira com a Síria, Líbano e Jordânia.

 
Por Evguêni Satanóvski, Correio Militar
Evguêni Satanóvski é presidente do Instituto de Estudos sobre o Oriente Médio.
 
Gazeta russa
DeOlhOnafigueira 

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