Seria possível apostar nos terroristas ou nos islâmicos que, por vezes, se apresentem na qualidade de oposicionistas?
Foi precisamente assim que o Ocidente procedeu ao apoiar
as forças que substituíram os regimes inconvenientes de vários países
árabes. Os peritos advertem que isso vai atingir de ricochete o próprio
Ocidente.
No Oriente Médio existe o ditado: “Eu
prometi mas não prometi cumprir”. Os europeus e norte-americanos
tentaram fazer acordo com os chamados “islâmicos moderados” que detêm
agora o poder na Líbia, Tunísia e Egito, e tentam derrubar o regime de
Bashar al-Assad na Síria. Não entendem que no mundo árabe a gente
ocidental é considerada um bando de simplórios ingênuos, que podem ser
enganados e aproveitados com facilidade. O preço desta ingenuidade
resulta demasiadamente alto, - afirma o diretor do Instituto do Próximo
Oriente Evgueni Satanovski.
"Os norte-americanos
tambem pensavam que tinham encontrado um instrumento muito bom na pessoa
dos “mujahidees” para combater os soviéticos no Afeganistão. E a 11 de
setembro os mujahidees “agradeceram” aos americanos este apoio em Nova
York e em Washington. A França fez o possível para derrubar os tiranos
na Líbia e agora cuida de derrubá-los tambem na Síria. O problema
consiste em que talvez seja possível fazer acordo com um só “tigre
raivoso”. Mas o que fazer se em seu lugar surgem dez mil “ratazanas
raivosas”?"
Ao dar início à guerra na Líbia, a França
já abriu o caminho para os seus próprios “11 de setembro”. O perito
explica que Kadhafi “alimentava” 23 de mais de 50 regimes africanos e em
todos estes países a situação era mais ou menos estável. Quando o seu
regime caiu, 18 milhões de africanos começaram a avançar rumo ao mar
Mediterrâneo. Em breve esta gente fará uma tentativa de penetrar na
Europa, em primeiro lugar, na França. Inicialmente, uns cem mil por ano,
e dentro de dez anos, um milhão por ano. A bomba de ação retardada,
preparada para o Ocidente, já começou a contar segundos.
A
essência da Irmandade Muçulmana, de que o Ocidente gostou tanto, é a
combinação do terrorismo e de métodos políticos de luta. Basta ouvir os
sermões de Yusuf Qardhawi, um dos seus lideres mais populares, no canal
de televisão Al-Jazeera. Este homem nem faz segredo do fato de
que é grande admirador de Hitler. Ao mesmo tempo é preciso constatar que
o processo de radicalização de “islâmicos moderados” em diversos países
decorre de diversas maneiras e que na Síria ele está mais avançado do
que no Egito.
Yuri Naguirniak, diretor do Fundo de
Veteranos dos Órgãos de Proteção da Ordem Pública, não vê, de um modo
geral, nenhuma lógica nas ações dos EUA nesta região.
"Os
EUA não somente provocam a situação em geral: cada seu passo político
de grande envergadura agrava a situação e engendra novas ameaças. Admito
que eles não gostem do regime em vigor na Líbia e em vigor na Síria,
mas em qualquer hipótese não podem deixar de compreender que aquilo que
vai surgir em seu lugar se constituirá numa ameaça terrorista muito mais
séria, - tanto para os EUA, como para o mundo ocidental."
A Rússia também cometeu erros no tocante aos islâmicos, - reconhece Evgueni Satanovski. "Tivemos
a idéia de que seria bom estabelecer relações com os islâmicos e que em
caso de necessidade eles resolveriam a situação fazendo uma “ligação”
necessária . Quando foi preciso, - isto é, quando no Iraque foram
raptados os nossos diplomatas, - tentamos utilizar este canal através do
HAMAS. Soube-se que eles não podiam fazer nada, - os diplomatas foram
mortos."
Enquanto o Ocidente não se conscientiza do
perigo que os chamados “islâmicos moderados” representam, o seu enfoque a
respeito dos métodos de luta contra o terrorismo será diferente do
respectivo enfoque russo. Na opinião de Yuri Naguirniak, estes métodos
são seguintes:"O primeiro e o mais importante meio da profilaxia é
evidente: é preciso evitar desestabilizar os países do mundo islâmico, -
seja qual for a forma da desestabilização e os seus objetivos. Qualquer
desestabilização nestes países acarreta inevitavelmente a radicalização
de correntes políticas.
Daí vem o segundo meio de profilaxia – não ir a
reboque da política dos EUA que cuidam dos seus próprios interesses sem
pensar no que vai ocorrer amanhã, - no mundo árabe, na Ásia Central e
no Afeganistão. O terceiro meio é realizar uma coordenação mais estreita
na base do compromisso de interesses entre todos os países que
enfrentam ameaças potenciais."
Voz da Rússia
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